Ambientes e Tendências
Natal na Itália, Alemanha e Brasil:
três tipos de contemplação
Se imaginarmos um elaborado presépio em certas regiões da Itália, vemos todas as figuras com atitudes muito enfáticas: o Menino Jesus deitado na manjedoura estendendo o braço a Nossa Senhora. Ela inclina-se para o seu Divino Filho numa atitude de profunda ternura, mas de uma ternura viva que se manifesta em gestos expressivos. É como se o objetivo do artista fosse conseguir que Nossa Senhora e o Menino Deus transmitissem uma impressão tal que alguém pudesse dizer: “Só falta que falem!,” pois falar e exprimir-se constitui o auge da conquista nesta cena.
Também São José, que está próximo (e que naturalmente desempenha um papel mais modesto no diálogo entre a Santíssima Virgem e o Divino Menino, pois é apenas o pai legal) assume uma posição que, embora quase não fale, parece prestes a chorar ou sorrir, conforme a interpretação, mas também é extremamente expressivo. Vê-se que, segundo esta concepção, a emoção religiosa deveria manifestar-se com grande vivacidade, que por sua vez deveria ser expressa por pensamentos e palavras. E tais pensamentos devem ser vivos e expressos em termos calorosos e enfáticos.
A ideia alemã da noite de Natal é exatamente o oposto disso. Para ser verdadeiramente sagrada, a noite de Natal deve despertar nas almas uma impressão profunda, comum a todos os povos. Mas para a mentalidade alemã, esta impressão profunda, pelo próprio fato de ser profunda, não deveria ser demasiado comunicativa porque está situada muito profundamente na alma. E a melhor manifestação externa desse espírito é o silêncio, o recolhimento e a calma.
Enquanto para alguns a palavra e o gesto são o ápice da expressão, para outros o clímax da expressão é uma forma de silêncio e inação que revela profundezas insuspeitadas da alma humana; e pelo seu próprio silêncio indicam a impotência da alma para expressar tudo o que pondera. Indicam um estado de espírito menos exclamativo e mais meditativo. Poderíamos dizer que é uma atitude recolhida, quase filosófica ou teológica.
Esta calma, que não é de tipo científico, é profundamente terna; uma ternura que indica um carinho tão grande que a pessoa prefere calar a falar. Desta forma, enquanto uns apresentam uma eloquência de palavras e gestos, outros manifestam, por assim dizer, a eloquência do silêncio e do recolhimento. Estas são duas posições diferentes.
Qual é o melhor? Compreendo que os italianos tenham a sua própria posição nesta matéria, e os alemães também.
Qual seria a atitude brasileira? É aquela que entende e aprecia ambas as posições. Esse é o jeito típico de ser brasileiro e é o que sinto em mim: uma compreensão perfeita tanto dos italianos quanto dos alemães.
Como brasileiro, falaria menos que os italianos, mas seria menos calado que os alemães, até porque de sangue sou um brasileiro com a loquacidade do Nordeste.
São variedades regionais pelas quais Deus quer ser adorado por todos os povos. Portanto, não cabe a nós escolher um, mas sim contemplar a beleza de todos os vários caminhos.
Postado em 9 de dezembro de 2024
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