Seleção Biográfica:
São Marcos Evangelista, estátua de Donatello
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O evangelista São Marcos era da tribo de Levi. Ele foi batizado por São Pedro e instruído por ele na Fé católica. Ele seguiu Pedro para Roma e pregou o Evangelho nesta cidade com ele. Os fiéis pediram a São Marcos para escrever a vida de Nosso Senhor de acordo com os relatos de São Pedro. Então, Marcos escreveu a narrativa com base no que ouviu de Pedro. Este último, depois de examinar o trabalho de Marcos, testemunhou que era perfeitamente exato e o aprovou para ser lido por todos os fiéis.
Mais tarde, São Pedro enviou São Marcos para Alexandria, onde ele foi o primeiro a pregar a Palavra de Deus. De acordo com Simão, um velho judeu que conheceu os labores de Marcos naquela cidade, uma enorme multidão converteu-se lá como consequência do apostolado de São Marcos.
São Pedro Damião escreveu que Deus deu a São Marcos uma graça especial pela qual todas as pessoas que ele converteu em Alexandria assumiram costumes monásticos. Ele os inspirou a isso por seus milagres e pelo exemplo de suas virtudes. Após sua morte, suas relíquias foram enviadas de volta à Itália, de modo que a terra onde ele escreveu seu Evangelho teve a honra de preservar seu corpo.
São Pedro o consagrou Bispo de Alexandria. Nesta cidade o zelo de São Marcos atraiu o ódio dos sacerdotes dos falsos deuses. Na Páscoa do ano 68 DC, eles o prenderam enquanto celebrava a Missa. Amarraram uma corda no seu pescoço e o arrastaram pela cidade como um animal para o abate. Em contacto com a superfície rochosa da pavimentação das ruas seu corpo ficou dilacerado e seu sangue tingia o caminho.
Fra Angelico retrata a tempestade do céu que caiu sobre Alexandria na morte de São Marcos
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Na prisão onde eles o jogaram, ele foi consolado por um Anjo. Então Nosso Senhor se dignou visitá-lo e disse-lhe: “A paz esteja convosco, ó Marcos, Meu Discípulo e Meu Evangelista. Não temais nada porque estou perto de vós.”
No dia seguinte, os sacerdotes pagãos novamente colocaram uma corda no pescoço e o arrastaram pelas ruas da cidade. Desta vez, sua força o abandonou e ele morreu, dizendo: “Em tuas mãos entrego meu espírito.”
O ar ficou turbulento, e a luz do dia se obscureceu e trovões ribombaram no céu. Seus assaltantes, que planejavam queimar seu corpo, fugiram. Assim, os discípulos de Marcos puderam recolher e piedosamente enterrar seus restos mortais.
Comentários do Prof. Plinio:
Os Srs. sabem que Alexandria foi uma das maiores cidades da Antiguidade. Era uma cidade famosa por sua cultura, riqueza e importância política, bem como pela pompa e luxo de seus habitantes. Naquela época, o paganismo era diferente do paganismo moderno, que é conhecido por sua vulgaridade, banalidade e igualitarismo.
O paganismo, então, estadeava fabulosas riqueza e luxo. Costumava também exigir uma cultura muito elaborada. Essa exibição pagã de esplendor trouxe grande importância a muitas das cidades da época e as fez brilhar diante do mundo.
Aquelas cidades importantes também eram as mais difíceis de converter. São Marcos, no entanto, conseguiu converter muitas pessoas de Alexandria. Logo depois que ele chegou, muitas pessoas mudaram suas vidas e assumiram hábitos monásticos. Os Srs. podem facilmente imaginar o grande contraste dessa vida digna, séria, casta e austera feita com o modo de vida dissoluto e exorbitante das elites sociais locais.
A vida dessas elites era bastante censurável. Parece útil dar uma ideia de como foi. Os romanos haviam conquistado todos os países ao redor do Mar Mediterrâneo, que eles chamavam de mare nostrum [nosso mar]. Por essa razão, esses países tinham a tendência de adotar costumes romanos.
Uma cena de banquete romano
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Por exemplo, as elites costumavam ter banquetes noturnos e festas em palácios com pátios. Com a agradável brisa marítima noturna, as portas dos palácios ficavam abertas. Tais festas frequentemente duravam a noite toda, terminando ao amanhecer com os familiares e convidados espalhados pelos jardins, bêbados e inconscientes, deitados aqui e ali sozinhos ou entrelaçados a outros em posturas desonrosas para serem recolhidos pelos criados e levados para suas próprias camas.
Naqueles bacanais, eles costumavam comer e beber até estarem saciados. Eles se reclinavam em uma espécie de chaise longue chamada triclínio que podia acomodar duas ou três pessoas. O ambiente seria - o que eu imagino - o de uma boate dos nossos dias. Havia apresentações de música, poesias, canções, às vezes até gladiadores para a diversão e o prazer dos convidados. Ao longo da festa todos estavam comendo e bebendo.
Quando alguém se empanturrava com comida e bebida e não aguentava mais, havia lugares como os banheiros onde os escravos faziam cócegas em sua garganta para que ele pudesse vomitar tudo. Depois, ele se limpava com água e perfumes, secava as mãos nos cabelos compridos de mulheres escravas que ali estavam para esse fim e voltava para as salas de banquetes para comer e beber novamente.
O ambiente moral nas classes mais baixas da sociedade também era repugnante. Os escravos eram muito numerosos, uma vez que quase todo homem livre das elites ou da classe média tinha mais de um escravo. Mas eles não eram tratados como seres humanos. Eles eram considerados como os objetos de seus donos.
O escravo não tinha o direito de se casar ou ter uma família, nenhum direito de pais sobre filhos. Uma criança pertencia ao dono de seus pais como uma fruta pertence ao proprietário da árvore. O dono costumava pegar o que queria da família dos escravos. Ele poderia até matar o escravo, o que não era considerado crime.
Este era o mundo bestial e decadente do paganismo, o mundo de Alexandria quando São Marcos foi pregar nele.
São Marcos pregando na praça de Alexandria. Pode-se ver que os convertidos adotaram formas monásticas de se vestir
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Os Srs. têm de imaginar aquela cidade opulenta de Alexandria quando São Marcos chegou pela primeira vez com sua grande dignidade. Ele está lá pela primeira vez andando por suas ruas, suponhamos, às 4 da tarde com o sol ainda brilhando.
Um judeu, com sua barba, seu porte imponente, sua santidade, seu espírito de recolhimento, ele se aproxima de um primeiro grupo de pessoas, encontra-as abertas para ele e começa a pregar.
Alguns, viajantes, riem dele, outros são indiferentes, mas um aqui, outro ali, vem se juntar ao pequeno grupo que já o está ouvindo. Em pouco tempo, ele tem um círculo de pessoas ao seu redor. Termina, se despede de seu público e vai para uma estalagem modesta.
As pessoas começam a falar sobre as coisas que ouviram, sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, sua Cruz, a necessidade de seguir um caminho de austeridade, castidade e santidade. A graça acompanha as palavras de São Marcos e essas pessoas, pela primeira vez, consideram levar uma vida completamente diferente.
Aqui está uma esposa que foi abandonada por seu marido, ali está um jovem cujos olhos começam a se abrir para notar a imoralidade grosseira dessa sociedade, mais adiante está um bêbado que se aproxima para ver o que está acontecendo.
As palavras de São Marcos abrem uma nova perspectiva de vida eterna. Ele fala de um espírito que não é material, ele fala da ressurreição do corpo, do Céu e da felicidade eterna, e também do Inferno e do Purgatório. Ele explica que existe um Deus que é Bondade, Justiça e Sabedoria a quem devemos orar e pedir ajuda.
Ele fala sobre Nossa Senhora e os Sacramentos, a Sagrada Eucaristia, Confissão e o grande privilégio que é ter nossos pecados perdoados. Para um homem acostumado às orgias de Alexandria, esses tópicos causam reações contraditórias. Uma pessoa sente uma atração irresistível e outra uma repulsa completa.
Isso ilustra como a ação da graça agindo em consonância com as palavras de São Marcos poderia ter convertido muitas pessoas. Também nos faz entender como suas palavras e sua presença constituíram um problema para toda a cidade de Alexandria. Ele conquistou tantos seguidores que, desde então, a Fé católica fica estabelecida na cidade. Mas ele também gerou um imenso ódio contra ele, e essas pessoas decidiram matá-lo.
É claro que ele veio para dividir, separar. Ele criou uma situação insustentável para aqueles que não o queriam seguir. O resultado foi que eles começaram a conspirar para o matar. Isso explica, até o final dos tempos, o que acontece com todos aqueles que seguem o caminho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Há uma semelhança entre a grande missão de São Marcos e nossa missão mais modesta, nós que lutamos contra o mundo moderno. De muitas maneiras, o mundo atual é muito pior do que a Alexandria daquela época. A imoralidade de hoje, eu posso sustentar, é muito pior do que naquela época. Mas eu me concentraria em outro ponto: a indiferença do mundo moderno.
Naquele tempo, São Marcos conseguiu converter multidões. Nos tempos modernos, os Srs. podem considerar a apatia do mundo em face dos milagres de Lourdes e do grande milagre do sol em Fátima. O homem moderno normalmente não se importa com eles e não muda.
25 de junho de 1968, Kyrillos VI leva a cabeça de São Marcos para a catedral monofisita do Cairo
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Outro ponto a ser considerado é que São Marcos sofreu o martírio e seu corpo foi recebido com veneração pelo povo italiano que lhe dedicou uma cidade: ele se tornou o patrono de Veneza. Hoje, a seita copta monofisista está tentando fazer com que o corpo de São Marcos retorne a Alexandria. Em 1968, Paulo VI já deu a preciosa relíquia da cabeça de São Marcos àquela seita. A reação do público católico foi de uma indiferença, quase completa.
A partir disso, podemos ver que, pior do que os tempos de São Marcos, hoje temos corrupção doutrinária que penetrou na Santa Igreja. Ela deveria ser o sol da santidade, e hoje ela está infiltrada por inimigos que a desfiguram. O progressismo que controla a Igreja Católica hoje é uma expressão do mundo moderno. Isto configura uma situação pior que o mundo de São Marcos.
Assim como São Marcos teve a obrigação de lutar contra o mundo corrupto de seu tempo, nós temos o dever de lutar contra os inimigos que trouxeram essa corrupção para dentro da Igreja. E porque estamos convencidos de que somos incomparavelmente menores que São Marcos, devemos pedir-lhe que nos ajude a nos conquistar, superar nossas próprias misérias, para podermos defender a Igreja contra seus inimigos.
| Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | |
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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