Seleção Biográfica:
João Batista nasceu em Reims, França, em 1651, em uma família de magistrados. Ele era o mais velho de dez irmãos. Ainda menino, sentiu uma náusea profunda em uma reunião social em relação a tudo o que o cercava. Ele falou com um primo, que reconheceu algo especial no menino e começou a ler a vida dos santos para ele.
Aos onze anos, recebeu a tonsura e em 1667 foi solenemente nomeado como cônego da Sé de Reims. Em 1670, ele foi enviado a Paris para estudar teologia no Seminário de Saint-Sulpice. Enquanto residia lá, ele participou de palestras sobre teologia na Sorbonne. Lá, ele ficou sob a direção espiritual do conhecido Mons. Louis Tronson, tendo feito rápido progresso em virtude.
Em julho de 1671, sua mãe morreu. Um ano depois, seu pai também morreu. Isso o obrigou a deixar Paris e voltar para casa. Aos 21 anos e como chefe de família, ele tinha a responsabilidade de educar seus irmãos e irmãs.
Naquela época, uma rica senhora em Rouen havia fundado uma escola gratuita para meninos órfãos. O modelo foi levado a Reims por um professor leigo, Arien Niguel, que foi hospedado por João Batista de la Salle em sua casa.
Esse contato abriu seus olhos para a necessidade da educação católica para meninos pobres, e ele assumiu a tarefa de preparar professores para essas escolas. Mais tarde, São João de la Salle escreveu em um livro de memórias:
“Se algum dia eu pensasse o que fiz por pura caridade para com os professores pobres da escola me obrigasse a morar com eles, eu teria desistido imediatamente. Eu costumava considerar a condição deles inferior à dos criados, o que teria tornado a ideia de morar com eles algo insuportável.”
Essa admissão implícita foi, no entanto, o começo da missão de São João Batista: a organização de escolas católicas primárias gratuitas para meninos pobres e a fundação dos Irmãos das Escolas Cristãs, comumente chamados Irmãos Lassalistas. Ao assumir essa iniciativa, ele indiretamente colocou contra ele não apenas seus parentes, mas quase toda a cidade, pois na época a noção de oferecer educação para as classes mais baixas era nova e não era aceita.
São João Batista ensinando
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Quando ele escreveu as regras para este Instituto, ele queria que seus membros vivessem sem dinheiro, confiando na Divina Providência. Seus companheiros murmuraram, dizendo que isso era muito fácil para ele, um cônego com uma boa renda, mas não para os outros. Ele deixou sua posição e distribuiu seus bens aos pobres. Então seus discípulos reclamaram que era um crime não distribuir os bens entre eles, em vez dos pobres.
Logo após a organização do instituto e das escolas, começaram as perseguições contra os professores leigos. Vê-los e seu hábito era motivo para seus oponentes vaiá-los nas ruas e jogar lama na cara.
Ele defendia a Comunhão frequente pelos professores e meninos leigos, o que elevou a ira dos jansenistas e o levou a ser abandonado por muitos de seus discípulos.
Os últimos anos do Pe. João Batista foram exaustivos no Colégio de Saint Yon, em Rouen, onde o noviciado funcionava. Em 1716, ele renunciou à direção ativa e ao governo do Instituto. O padre encarregado do noviciado aproveitou a situação para maltratá-lo.
Dois dias antes de morrer, o Arcebispo de Rouen, devido às frequentes polêmicas que São João Batista levantou, privou-o de seus poderes sacerdotais, como se ele fosse um padre indigno. O Santo sorriu e disse: "Espero ser libertado em breve do Egito e entrar na Terra Prometida dos eleitos."
Ele alcançou seu objetivo em 7 de abril de 1719, uma Sexta-Feira Santa, aos 67 anos.
Comentários do Prof. Plinio:
Essa seleção é muito bela porque mostra os sofrimentos que São João Batista de la Salle teve que suportar. No entanto, por outro lado, é unilateral, porque não mostra como ele cumpriu sua missão. Ela mostra algumas das curvas que o rio fez, mas não mostra como o rio chegou ao oceano.
Deixe-me retificar esta seleção. Na época de São João Batista de la Salle, a estrutura eclesiástica da França encontrava-se desorganizada em consequência das guerras religiosas entre protestantes e católicos. A boa influência da Contra-Reforma também estava chegando ao fim. No clero francês, os costumes haviam se tornado negligentes e o zelo apostólico havia diminuído. Por essas razões, o clero estava muito interessado em trabalhar com pessoas que pudessem oferecer vantagens, isto é, com os nobres, magistrados e ricos. Desprezava o apostolado com meninos pobres e simples.
Sua missão era dar uma educação Católica para meninos pobres
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Foi uma orientação completamente errada, mas é compreensível. A sociedade ainda possuía uma forte estrutura hierárquica, e as grandes vantagens só podiam vir do topo. Assim, o clero descuidado e desleixado procurou os ricos e desprezou os pobres. Como resultado, um grande número de crianças cresceu sem nenhuma instrução religiosa. Essas novas gerações festavam, portanto, destinadas a ser completamente pagãs.
De certa forma, essa situação era o oposto da que temos em nossos dias e, de certa forma, era semelhante. Foi semelhante porque hoje também temos um clero descuidado e desleixado que carece de zelo apostólico. Eles também são bajuladores dos famosos de nossos dias, ansiosos para tirar proveito deles.
Mas acontece que os grandes de nossos dias não são mais nobres, magistrados ou intelectuais. Os que têm poder são os esquerdistas promovidos pela mídia demagógica. Esses órgãos apenas promovem aqueles que são socialistas e anti-hierárquicos, aqueles que são revolucionários. Assim, o clero desleixado busca suas vantagens junto a líderes políticos, chefes de movimentos operários ou líderes das chamadas minorias discriminadas. Essa é a diferença, uma situação quase completamente oposta.
Mas naquela época, quando a Revolução ainda não havia destruído a hierarquia social, os ventos da moda ditavam desprezo pelos pequenos e pelos pobres, e assim o clero e a sociedade mundana seguiram essa corrente.
São João Batista de la Salle seguiu um caminho diferente. Ele deixou de lado sua posição social, seus privilégios eclesiásticos como cônego e sua carreira promissora, e foi ajudar aqueles a quem a Revolução desprezava. Ele procurou os meninos que haviam sido abandonados e formou um instituto de irmãos leigos especializados em ensinar essas crianças.
Temos que imaginar como teriam sido os ensinamentos de um santo como São João Batista de la Salle - sua seriedade em explicar os princípios católicos para os meninos, a profunda impressão que ele causou em suas almas, as bênçãos que suas palavras tiveram sobre eles. Essas aulas teriam sido uma verdadeira maravilha do espírito católico, exercendo uma enorme influência sobre aqueles meninos que, de muitas maneiras, constituiriam o futuro da França.
Ele não se limitou ao ensino, mas também fundou um instituto de padres e leigos completamente dedicados ao ensino de jovens. Portanto, não permaneceu obra de um único homem, mas logo ele reuniu centenas de professores com o mesmo objetivo. Era um novo tipo de vocação na Igreja - pessoas que deixam o mundo com o único objetivo de ensinar os meninos a se tornarem bons católicos. Essa congregação se difundiu por toda parte e se tornou uma força importante na Igreja e na sociedade.
Portanto, ele foi chamado para realizar esta missão, um trabalho muito elevado. Ele enfrentou muitos obstáculos ao longo do caminho, mas acabou alcançando seu objetivo. Essa linha reta, límpida e clara, representa a realização de sua vocação. Ele teve sucesso diante de Deus, mas também teve sucesso diante dos homens, porque deixou uma grande obra para trás.
O altar de São João Batista de la Salle na Catedral de São Patrício em Nova York |
Ao longo do caminho, o curso do rio fez inúmeras voltas diante dos obstáculos, que mudaram de direção antes de chegar ao oceano. Então, ele teve de enfrentar todas as dificuldades mencionadas pela seleção. Ele foi rejeitado por sua família, seus amigos mais próximos e muitos de seus discípulos; ele foi ridicularizado pelos habitantes de sua cidade e perseguido por representantes da própria Igreja à qual ele havia dedicado sua vida.
Vimos que Nossa Senhora permitiu que ele sofresse todas essas coisas para regar, com o mérito de seu sofrimento e sangue, a semente que ele plantou.
Aceitando esses sofrimentos, ele se tornou um modelo para as obras de qualquer apostolado. Todo apostolado tem de sofrer e depende do sangue das almas daqueles que são chamados para fazê-lo. Às vezes, até pede sangue de verdade, pedindo ao apóstolo que o derrame.
O obstáculo mais difícil de vencer foi a aparência de absurdo da obra que São João Batista de Salle foi chamado a fazer. Muitas vezes, uma pessoa chamada para realizar grande trabalho precisa enfrentar grandes ondas de oposição que fazem sua vocação parecer insensata. Essa aparência de incoerência é uma das dilacerações mais dolorosas que uma pessoa pode sofrer, porque parece atrapalhar a missão para a qual o Espírito Santo o havia chamado.
Mesmo que não tenhamos a vocação de ensinar crianças, devemos admirar a vida de São João Batista de la Salle. Ele nos oferece a oportunidade de contemplar as muitas vocações diferentes que o Espírito Santo colocou na Igreja Católica e quão rica ela é. Ela é um tesouro no qual podemos encontrar todas as coisas preciosas, cada uma com sua própria beleza, valor e esplendor. Devemos glorificar Nosso Senhor Jesus Cristo por isso.
Rezemos a São João Batista de la Salle para nos ajudar a aumentar nossa admiração por todas as vocações abrangidas pela Santa Madre Igreja.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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