Seleção Biográfica:
Teresa estava no Carmelo de Toledo quando o Rei de Portugal, Dom Sebastião, foi morto e seu exército derrotado na grande batalha contra os Mouros em Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1578. A santa teve uma revelação sobre a derrota. Ela ficou profundamente triste e chorou, pois desejava muito o avanço da Cristandade e seus inimigos vencidos.
Santa Teresa de Ávila
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Ela reclamou com Nosso Senhor: “Meu Deus, por que permitiste a derrota de teu povo e a vitória de teus inimigos?” Nosso Senhor respondeu-lhe: “Se os achei preparados para ser trazidos à minha presença, por que estás aflita?”
Seu sentimento de tristeza se dissipou ao considerar a glória que os soldados mortos em batalha já estavam desfrutando. Ela admirava aqueles guerreiros que Deus encontrou preparados para a felicidade eterna, especialmente considerando os hábitos normalmente relaxados dos soldados. Imediatamente ela desejou estender sua reforma Carmelita a Portugal.
Ela rezou fervorosamente para saber a vontade divina e, na Festa da Assunção, veio uma resposta. Nosso Senhor disse a ela:
“Minha filha, não vais a Portugal fundar as casas da tua reforma.
As vossas filhas e filhos farão isso no futuro, quando acabarei com o castigo infligido a Portugal e empregarei a Minha misericórdia com este país. O aumento do número de bons religiosos dar-me-á motivos para tirar Portugal da miséria em que terá caído, restaurarei a felicidade de outrora e será promessa de glórias futuras.”
Comentários do Prof. Plinio:
O excerto trata de dois assuntos inter-relacionados: a derrota de Alcácer-Quibir em 1578 e a fundação dos Conventos das Carmelitas em Portugal.
Em primeiro lugar, Santa Teresa rezava quando Deus lhe revelou que o Rei Dom Sebastião de Portugal [que reinou de 1557-78] sofreu a grande derrota de Alcácer-Quibir. Essa batalha foi decisiva em vários pontos.
Dom Sebastião aos 17 anos
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* Se D. Sebastião - Rei muito piedoso e virgem, última flor do velho Portugal - tivesse vencido, teria quebrado o poder dos mouros. Portugal poderia ter fundado uma próspera colônia no Norte da África, que poderia ter sido a cabeça de ponte para uma África católica. Isso teria abalado o poder muçulmano em todo o mundo.
Os maometanos ocuparam a Península Balcânica, a Turquia, toda a Ásia Menor e partes da África, Egito, Tunísia, Trípoli, Argélia e Marrocos. Naquela época, a parte mais dinâmica do poder muçulmano estava no Norte da África.
Portanto, se o exército português tivesse conquistado o Norte da África, isso teria tornado mais fácil para outros reinos católicos, como Espanha e França, o seguirem. Portugal já tinha uma cabeça de ponte em Fez; em Alcácer-Quibir, estava tentando estender sua posição militar. Por isso Alcácer-Quibir foi uma batalha decisiva.
Para aquela batalha ultramarina, o Rei Dom Sebastião reuniu uma grande frota em Lagos com um numeroso exército de nobres e soldados portugueses. Diz-se que ele fez uma manobra militar imprudente contra os Mouros. Ele foi morto na batalha e o poder português foi quebrado. Por outro lado, o poder islâmico se consolidou e ganhou força.
* Isso não foi apenas muito ruim para a conversão das nações islâmicas, mas também foi favorável ao protestantismo. Pois, livres da ameaça católica na África, os muçulmanos foram mais capazes de se concentrar em seus ataques contra a Áustria e a Hungria. Para tanto, favoreciam os protestantes de lá e de outros países que também eram inimigos da Áustria e da Hungria católicas.
* Esta catástrofe significou também um desastre para a independência de Portugal. Dom Sebastião deixou apenas um herdeiro, seu tio, o Cardeal Dom Henrique, que se tornou Rei. Foi dispensado pela Santa Sé do seu voto de castidade para continuar a dinastia Avis. Mas ele reinou apenas dois anos [1578-1580] e nunca teve filhos. A coroa portuguesa passou por direito de sucessão ao Rei Filipe II de Espanha. A dinastia portuguesa desapareceu. Portanto, a morte de Dom Sebastião em Alcácer-Quibir representou danos gravíssimos para Portugal.
* Percebendo tudo isso, Santa Teresa ficou triste e chorou. Ela perguntou a Nosso Senhor por que ele havia permitido essa derrota. Sua resposta a ela foi que o exército estava espiritualmente tão bem preparado que Ele levou a maioria deles para o Céu. Os senhores podem ver que essa resposta de Nosso Senhor foi um pouco evasiva. A resposta completa veio quando Ele disse que a derrota fora um castigo e que os bons religiosos que viriam seriam um meio de adiar o castigo.
Como podem ver, o tema deste episódio entre Santa Teresa e Nosso Senhor é essencialmente uma preocupação política e militar sobre Portugal. Isso se opõe a uma certa doce mentalidade sentimental sobre a vida dos santos, que quase nunca leva em consideração tais facetas. Tudo tem que ser espiritual.
Este falso espírito piedoso abomina lidar com a política católica e os interesses militares; ele assume falsamente que o espiritual é tão elevado que nada mais importa. O verdadeiro santo, insinua esse espírito, não liga para os assuntos políticos e militares. No episódio narrado acima entre Nosso Senhor e Santa Teresa, os senhores podem testemunhar o contrário.
A cidade murada de Ávila na época de Santa Teresa, acima, e uma cena noturna hoje, abaixo
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Nosso Senhor mostrou a derrota militar de D. Sebastião em uma revelação mística à grande Santa Teresa porque Ele queria falar sobre isso com ela. Deus teve um grande interesse nessa batalha. Quando a causa católica perde, supõe-se que as pessoas santas sejam afligidas, como Santa Teresa foi. Os dois conversaram e Nosso Senhor revelou à História a razão divina da derrota.
* É interessante considerar como são belos os desígnios de Deus. Como a Sabedoria Divina tem uma infinidade de facetas que a inteligência humana nunca pode abarcar completamente. Ele respondeu à pergunta de Santa Teresa, dizendo-lhe que a maioria da tropa portuguesa estava preparada para a morte, e por isso Ele a levou.
Os senhores podem ver que, mesmo quando Deus estava castigando aquela nação, sua bondade estava levando em consideração o estado espiritual daqueles combatentes. Talvez Ele tivesse mudado o momento do castigo se os soldados não estivessem tão bem preparados para uma boa morte. Os senhores podem ver seu cuidado, sua bondade, sua misericórdia.
Segundo, deixe-me dizer apenas uma palavra sobre a Ordem Carmelita. Santa Teresa teve a missão especial de divulgar a reforma do Carmelo. A missão das Carmelitas era, por meio da oração e da penitência, atrair as graças de Deus aos países onde existiam os Conventos Carmelitas. Uma segunda dimensão de sua missão era ganhar essas graças para toda a Cristandade e, em uma terceira dimensão, para todo o mundo, converter todos à Religião Católica.
Nossa Senhora do Monte Carmelo na Igreja de Santa Teresa, Ávila
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Quando Santa Teresa viu que a nação portuguesa era tão fervorosa, ela desejou fundar um convento ali. Seu desejo foi excelente e agradou a Deus, mas Ele adiou a fundação. Por quê? Somente a Sabedoria Divina sabe.
Mas uma consideração é que o povo português precisaria de certo tempo para aceitar a supremacia espanhola uma vez que a coroa de Portugal fosse incorporada à Espanha - acabei de mencionar que o Rei Filipe II recebeu a coroa como herdeiro legítimo após a morte do Cardeal Dom Henrique.
Se as Carmelitas espanholas tivessem ido para Portugal então, na altura em que Santa Teresa desejava, trazendo outra novidade, bem poderiam ter sido mal recebidas. Um período de adaptação parecia ser necessário. Talvez tenha sido esta uma das razões por que Nosso Senhor demorou a enviar as Carmelitas espanholas a Portugal. Depois da união dos dois reinos, a presença das Carmelitas espanholas em Portugal seguiu naturalmente e produziu imensos frutos espirituais.
Concluindo, podemos ver quão importante é acompanhar os acontecimentos e as notícias do nosso tempo na medida em que estão relacionados com a salvação das almas, a causa católica, a derrota da Revolução, e a glória e exaltação da Santa Igreja. Este deve ser para nós um ato de amor a Deus característico de nossa vocação contra-revolucionária, pois é agir nos acontecimentos da atualidade.
Peçamos a Santa Teresa que nos dê esta graça inestimável.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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