Seleção Biográfica:
Eduíno, nascido em 584, era um príncipe da família Real de Deira, na Inglaterra. Seu pai, o Rei Aelle, foi deposto e Eduíno foi forçado a fugir e foi criado no exílio.
Certa vez, Eduíno, um pagão, encontrou um estranho que previu a restauração de seu Reino se prometesse fazer tudo o que lhe fosse ensinado em relação à sua própria salvação. Eduíno prometeu e o estranho, colocando a mão sobre a cabeça, pediu-lhe que se lembrasse daquele sinal. Pouco depois desse incidente, devido a diversas circunstâncias políticas e militares, Eduíno recuperou o Reino de Deira e depois tornou-se Rei de toda a Nortúmbria, uma das sete partes em que a Inglaterra estava dividida na época.
Santo Eduíno, Rei da Nortúmbria (584-633)
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Quando sua primeira esposa morreu, ele se casou com a princesa católica Etelburg, filha do Rei de Kent. Ele concordou que ela deveria ter permissão para praticar sua religião e prometeu estudar as verdades da Fé católica. Também acolheu em sua corte São Paulino, arcebispo de York e capelão da rainha, que passou a exercer influência sobre ele. Um atentado contra a vida de Eduíno foi feito, mas ele foi salvo por um ministro que recebeu o golpe de adaga dirigido contra ele. Na mesma noite, sua esposa deu à luz uma filha, Enfleda. Essa criança se tornou a primeira católica batizada em seu reino.
Tocado por essas duas coisas, Eduíno prometeu se converter se vencesse a guerra contra o Rei dos saxões do Oeste. Ele conquistou este reino no campo de batalha, parou de adorar ídolos e começou a receber instruções de São Paulino. Para encorajá-lo, o Papa Bonifácio V enviou uma carta e presentes, mas Eduíno permaneceu pagão. São Paulino continuou a ensiná-lo, mas o Rei não se converteu.
Um dia, o arcebispo se aproximou do Rei, colocou a mão em sua cabeça e perguntou se ele se lembrava daquele sinal. Eduíno lembrou-se do estranho do passado; bastante comovido, ele se arrependeu de sua vida anterior, converteu-se e foi batizado na Páscoa de 627. Ele se tornou um católico exemplar e um apóstolo de seu povo. Ele também ajudou a Fé Católica a se espalhar em outros reinos da heptarquia inglesa.
Penda, um poderoso rei pagão da Mércia, em aliança com o Príncipe Galês Cadwallon invadiu a Nortúmbria. Na batalha de Hatfield Chase, em 12 de outubro de 633, eles derrotaram e mataram Santo Eduíno.
Comentários do Prof. Plinio:
Haveria muitas coisas dignas de comentário na vida de Santo Eduíno, Rei e guerreiro, mas vou chamar a atenção apenas para um ponto importante.
Normalmente, quando estudamos este período de fundação da Europa, vemos que houve homens gloriosos, como Clóvis, que pelo mérito do seu Batismo venceu muitas batalhas, derrotou todos os seus inimigos e trouxe o seu povo à Fé. Eles não obrigaram seus povos a acreditar, mas seus exemplos e argumentos os convenceram a se converter e abraçar a Fé Católica. Esses homens gloriosos terminaram suas vidas em uma aura de esplendor que representou o amanhecer da Idade Média.
A vida de Cristo terminou em aparente derrota
Crucificação de Giotto di Bondone
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Mas na vida de Santo Eduíno, mesmo tendo vencido muitas batalhas e convertido muitas pessoas, ele terminou sua vida derrotado, seu Reino invadido.
Após o longo e difícil trabalho de São Paulino para convertê-lo, São Eduíno abraçou a Fé com sinceridade; ele também ajudou a converter muitos outros e morreu em defesa da Fé.
O fato de sua vida ter terminado em derrota me dá a oportunidade de lembrar que também devemos passar por derrotas em nossa luta contra a Revolução.
Muitos de nós temos uma mentalidade triunfalista pela qual imaginamos que nunca deveríamos sofrer uma derrota. Pensamos que devemos dar golpes fortes e contínuos contra a Revolução, indo de batalha em batalha pela vitória. Essa marcha contra nossos inimigos é vista como uma espécie de desfile militar, vencendo todos os inimigos com grandeza e chegando ao próximo capítulo da História - o Reinado de Maria - sem uma única cicatriz em nossos corpos.
Essa mentalidade está muito errada, e a vida de Santo Eduíno é um modelo para entendermos como a vida não é assim. Não só ele, mas Nosso Senhor Jesus Cristo foi derrotado do ponto de vista humano. Nosso Senhor foi rejeitado, perseguido, jogado na prisão, violentamente espancado, crucificado e morto. Quase todos os seus amigos e discípulos o abandonaram; ao pé da Cruz Ele tinha apenas um apóstolo e algumas mulheres que continuaram a ser leais a Ele. Isso foi tudo o que restou de seu apostolado de toda a vida. Ou seja, humanamente falando, sua morte representou um fracasso completo.
Sabemos, entretanto, que dessa derrota veio nossa redenção; sabemos que partilhando o mérito da Paixão, o sangue dos mártires é semente de cristãos. Sua fecundidade produz o arrependimento dos que abandonam a causa católica e sua verdadeira contrição e retorno, como aconteceu com os Apóstolos. Também atrai os pecadores mais difíceis para o bom caminho. O sangue católico derramado em defesa da Fé tem essa virtude. Este é um princípio muito importante e elevado que nunca devemos esquecer, que deve ser uma fonte de encorajamento constante em nossa vida espiritual.
Há também outro princípio mais simples e menos elevado: se entrarmos em uma batalha na qual cobrimos o inimigo com golpes, é absolutamente normal que recebamos muitos golpes. Se nossa luta tiver algumas vitórias, é normal que tenha também algumas derrotas. Essas derrotas também fazem parte da guerra. Quem pensa diferente está fora da realidade, está vivendo em um mundo de sonhos onde terá muitas surpresas desagradáveis.
O Batismo de Santo Eduíno
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Tive uma fraulein alemã que foi governanta de minha irmã e minha quando éramos crianças. Lembro que durante a Primeira Guerra Mundial ela ficou indignada quando os pilotos ingleses bombardearam Berlim. “Ó aqueles ingleses arrogantes!” Ela costumava exclamar. “Como se atrevem a bombardear Berlim! Eles não têm o direito de fazer isso!” Não compartilhei sua indignação, porque pensei que seu argumento era vazio. Na verdade, se os alemães estavam bombardeando Londres e Paris, eu não conseguia entender por que os pilotos ingleses e franceses não deveriam bombardear Berlim. Se alguém ataca a casa de seu vizinho, ele adquire o direito de contra-ataque. É o princípio da legítima defesa. É absolutamente normal. É a lei básica da guerra.
Portanto, as derrotas devem ser aceitas como normais em nossa luta. Elas não devem ser motivo de surpresa ou desânimo. Nossa luta é um trabalho de dedicação à causa católica que, como em qualquer luta, busca a vitória final. Mas antes que essa vitória venha, devemos ter derrotas - e já tivemos muitas. Um espírito viril enfrenta as derrotas, recomeça do zero, mesmo do zero, e continua a luta por Nossa Senhora.
O Profeta Elias, por quem temos uma devoção especial e que em muitos sentidos é nosso modelo, um dia virá lutar contra o Anticristo. Será a luta mais gloriosa da História. Ele desafiará aquele homem do Pecado em uma polêmica pública e deixará o Anticristo sem palavras. Por este motivo, ele será morto e seu corpo junto com o de Enoc ficarão expostos em praça pública por três dias. Somente após esta derrota espetacular, Nosso Senhor virá e com um sopro de seus lábios divinos, derrotará o Anticristo.
Esses são princípios que devem estar sempre em nossas mentes. A vida de Santo Eduíno nos deu a oportunidade de relembrá-los. Peçamos-lhe que obtenha para nós a graça da fortaleza e da perseverança em nossa luta contra a Revolução na vitória ou na derrota.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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