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O Santo do Dia

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Santo Artêmio - 20 de Outubro

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

Seleção Biográfica:

Artêmio foi um comandante do Exército Imperial sob Constantino. Juliano, o Apóstata - Imperador de 361 a 363 - ordenou que ele fosse decapitado em 363.

St. Artemius

Santo Artêmio

Juliano, o Apóstata, havia levantado uma enorme perseguição contra os fiéis católicos. Depois de torturar um grande número de fiéis, ele condenou os padres Eugênio e Macário. Enquanto eles estavam sendo torturados, um oficial sentado perto do Imperador se levantou e dirigiu estas palavras a ele:
“Por que torturas tão cruelmente esses homens santos? Não te esqueças que também és homem e que foi Deus quem te permitiu ser Imperador. Toma cuidado, pois Satanás, que pediu permissão para tentar Jó, pode ter pedido permissão para usá-lo contra nós a fim de semear joio em meio ao trigo de Cristo. Mas teu esquema será inútil porque ele não tem mais o poder que tinha no passado. Visto que Cristo veio e foi ressuscitado na Cruz, o orgulho e o poder de Satanás foram derrotados. Não tenhas ilusão - ó Imperador! - ao seguir o teu amor por Satanás, não persigas os cristãos protegidos por Deus. O poder de Cristo é invencível.”
Ao ouvir essas palavras, Juliano ficou indignado e perguntou quem era o desgraçado insolente que ousou pronunciar palavras tão ousadas. Disseram-lhe que o homem era Artêmio de Alexandria, Governador do Egito e da Síria que acabava de chegar, trazendo novas tropas para a guerra contra a Pérsia. O Imperador ordenou que fosse preso. Depois que Santo Artêmio suportou muitos tormentos que visava fazê-lo apostatar, Juliano deu ordem para que ele fosse decapitado.

Antes da execução, ele pediu tempo para rezar. E disse:
“Ó Divino Jesus Cristo, tem piedade de Vossa Igreja. Teus altares serão profanados e o Sangue de Vossa aliança desprezado por causa das blasfêmias que Ário vomitou contra Vós. Ele separou a Vós, o único Filho de Deus, e o Espírito Santo da co-substancialidade do Pai, propondo que o Pai seria diferente de Vossa natureza - Vós que sois o Autor de toda a criação. Ele Vos sujeitou ao tempo - Tu que existia antes de todos os séculos.”
The ruins of the Roman ampitheatre of Arles, France

Um anfiteatro Romano em Arles, França, dá uma ideia da cena da morte de Santo Artêmio

Depois de dizer essas palavras, ele fez uma genuflexão três vezes em direção ao leste e, novamente, rezou em voz alta:
“Deus de Deus, Rei dos Reis, Vós que estais sentado no Céu à destra do Pai que Vos gerou, Vós que sois a coroa dos que lutam pela causa da piedade, ouvi favoravelmente este humilde e indigno servo e recebei sua alma em paz.”
Uma voz respondeu do Céu dizendo que sua oração havia sido ouvida e que o Imperador morreria na Pérsia, seria sucedido por um cristão, e a idolatria seria irremediavelmente destruída.

Depois de ouvir essas palavras, Artêmio serenamente abaixou a cabeça para a espada.


Comentários do Prof. Plinio:

Considerando a grandiosidade de Santo Artêmio, fica triste viver no século 20 quando governadores e presidentes são tão insignificantes e medíocres.

Detail of St. Artemius wielding a sword

Santo Artêmio como soldado militante em defesa da honra de Deus e da Igreja

St. Artemius wielding a sword

É útil recompormos a cena para ter uma ideia melhor do que foi descrito.

Os senhores podem imaginar um anfiteatro romano com sua tribuna imperial, colunas e um dossel coberto com um rico material, o Imperador em uma cadeira majestosa com vários dignitários importantes sentados atrás dele. Vários escravos balançam leques de penas para frente e para trás para mover o ar e impedir que as moscas perturbem o Imperador. As pessoas lotam as arquibancadas, ocupando todas as vagas do estádio.

Perto do Imperador está sentado um alto oficial. Ele usa a armadura romana clássica com seu capacete característico. Este homem é um alto dignitário. A seleção diz que ele foi governador de duas províncias muito importantes do Império Romano e que tinha vindo trazendo novas tropas para a guerra contra a Pérsia. Ele foi, portanto, um convidado de honra.

Num determinado momento, enquanto dois padres católicos eram martirizados e o povo aplaudia o espetáculo como hienas, este homem se levanta e dirige palavras duras ao Imperador.

É um longo discurso durante o qual o Imperador permaneceu calado. É uma apóstrofe magnífica. Mostra que o militante católico nem sempre se põe na defensiva, mas também ataca, toma a iniciativa e desafia.

O Imperador não está satisfeito. Em vez de responder, ele pergunta o nome desse homem que ousou falar assim e manda que seja torturado. Ele tenta fazê-lo apostatar, mas quando não consegue, ordena que ele seja morto.

As palavras de Santo Artêmio merecem uma análise cuidadosa. Na primeira parte, ele pergunta ao Imperador o motivo pelo qual tortura aqueles homens santos. Sabendo que Juliano, o Apóstata, errou ao fazer isso, ele avisa o Imperador para ter cuidado porque ele pode muito bem ser um instrumento de Satanás para perseguir a Igreja Católica.

Então ele argumenta que é inútil persegui-la porque o poder do demônio foi quebrado por Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, quando Ele foi crucificado, quando Ele ressuscitou na Cruz. Qualquer tentativa de impedir o cristianismo de se propagar falharia, pois Satanás perdeu seu antigo poder.

Nisto existe um conceito muito profundo: que a principal força do mal e da heresia é a de Satanás. É um conceito que não homenageia a ingenuidade, o otimismo ou o liberalismo, imaginando que os hereges podem ser bem intencionados e o mal que praticam pode ser acidental. Santo Artêmio vai direto à raiz do problema e o explica. Ou seja, Satanás é o inspirador e o apoiador das heresias, e todo o mal procede dele. É um conceito eminentemente astuto e contra-revolucionário.

Em conclusão, diz que o Imperador está realizando uma obra injusta e fútil porque será derrotado. Ouvindo essa condenação, Juliano, o Apóstata, ordena que seus guardas prendam Artêmio. Esta é a grande primeira cena. Há outra, que os senhores podem imaginar em outra arena romana. É o cenário do martírio de Santo Artêmio.

The skin of Julian the Apostate nailed to a gate

A morte de Juliano, o Apóstata: sua pele foi pregada em um poste do portão - A Queda dos Príncipes, Biblioteca Britânica

Antes de ser decapitado, ele faz uma oração, e uma voz vem do Céu para respondê-lo. Os senhores podem imaginar o silêncio do público. Aquele homem vigoroso e viril, aquele espírito inquebrantável, permanece sem medo no meio da arena e pede tempo para rezar. Ele reza em voz alta. Ele proclama que a perseguição que a Igreja está sofrendo nas mãos de Juliano, o Apóstata, é um castigo para a heresia do arianismo.

Por que a Igreja seria castigada por uma heresia que ela condenou? É porque ela condenou a heresia somente após um longo período de complacência. Quase todos os bispos se tornaram arianos. O mal foi tão generalizado que São Jerônimo, se não me engano, disse que um dia toda a Igreja despertou ariana.

Uma luta feroz foi necessária para derrotar o arianismo. Os poucos santos que defenderam a boa causa foram perseguidos e muito sangue foi derramado. O mundo não se converteu completamente do arianismo. Logo depois que a heresia ariana foi condenada, o semi-arianismo começou a propor os mesmos erros de uma forma mais sutil.

Portanto, um castigo era apropriado para aquele Império Romano depravado bem como para a Igreja decadente. Santo Artêmio declarou que Juliano, o Apóstata, foi o flagelo daquele castigo de Deus.

Podemos ver que este princípio histórico também se aplica aos nossos tempos. A suavidade daqueles que são chamados a combater as heresias de nosso século também merece um castigo. Esses supostos conservadores que veem a doutrina católica sendo atacada e não reagem de forma consistente são um polo que atrai a ira de Deus. Além disso, em vez de ajudar aqueles que tomam a posição certa e lutam contra os inimigos, eles os traem.

Voltemos à cena do martírio de Santo Artêmio. Ele ouviu uma voz do Céu afirmando que sua oração havia sido ouvida, que o Imperador morreria e a idolatria seria derrotada.

Depois disso, Santo Artêmio, como o Profeta Simeão, pediu a Deus para receber sua alma. Sua última oração pode ser entendida como uma paráfrase das palavras de Simeão. Essencialmente, Santo Artêmio disse: “Ó Senhor, agora podes receber Vosso servo em paz, porque meus ouvidos ouviram o anúncio da derrota do tirano e de Vossa vitória.”

O que Santo Artêmio não viu nem sabia é que muitos séculos depois as suas torturas e a forma viril de encontrar a sua morte nos encorajariam, pessoas de um continente que ele nem sabia que existia.

A sua morte é um estímulo para que soframos virilmente o que nos é pedido que soframos, para o que fazemos agora possa um dia ser também um estímulo para aqueles católicos que virão nos últimos tempos e terão de passar por combates semelhantes.


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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.



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