Seleção Biográfica:
Artêmio foi um comandante do Exército Imperial sob Constantino. Juliano, o Apóstata - Imperador de 361 a 363 - ordenou que ele fosse decapitado em 363.
Santo Artêmio
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Juliano, o Apóstata, havia levantado uma enorme perseguição contra os fiéis católicos. Depois de torturar um grande número de fiéis, ele condenou os padres Eugênio e Macário. Enquanto eles estavam sendo torturados, um oficial sentado perto do Imperador se levantou e dirigiu estas palavras a ele:
“Por que torturas tão cruelmente esses homens santos? Não te esqueças que também és homem e que foi Deus quem te permitiu ser Imperador. Toma cuidado, pois Satanás, que pediu permissão para tentar Jó, pode ter pedido permissão para usá-lo contra nós a fim de semear joio em meio ao trigo de Cristo. Mas teu esquema será inútil porque ele não tem mais o poder que tinha no passado. Visto que Cristo veio e foi ressuscitado na Cruz, o orgulho e o poder de Satanás foram derrotados. Não tenhas ilusão - ó Imperador! - ao seguir o teu amor por Satanás, não persigas os cristãos protegidos por Deus. O poder de Cristo é invencível.”
Ao ouvir essas palavras, Juliano ficou indignado e perguntou quem era o desgraçado insolente que ousou pronunciar palavras tão ousadas. Disseram-lhe que o homem era Artêmio de Alexandria, Governador do Egito e da Síria que acabava de chegar, trazendo novas tropas para a guerra contra a Pérsia. O Imperador ordenou que fosse preso. Depois que Santo Artêmio suportou muitos tormentos que visava fazê-lo apostatar, Juliano deu ordem para que ele fosse decapitado.
Antes da execução, ele pediu tempo para rezar. E disse:
“Ó Divino Jesus Cristo, tem piedade de Vossa Igreja. Teus altares serão profanados e o Sangue de Vossa aliança desprezado por causa das blasfêmias que Ário vomitou contra Vós. Ele separou a Vós, o único Filho de Deus, e o Espírito Santo da co-substancialidade do Pai, propondo que o Pai seria diferente de Vossa natureza - Vós que sois o Autor de toda a criação. Ele Vos sujeitou ao tempo - Tu que existia antes de todos os séculos.”
Um anfiteatro Romano em Arles, França, dá uma ideia da cena da morte de Santo Artêmio
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Depois de dizer essas palavras, ele fez uma genuflexão três vezes em direção ao leste e, novamente, rezou em voz alta:
“Deus de Deus, Rei dos Reis, Vós que estais sentado no Céu à destra do Pai que Vos gerou, Vós que sois a coroa dos que lutam pela causa da piedade, ouvi favoravelmente este humilde e indigno servo e recebei sua alma em paz.”
Uma voz respondeu do Céu dizendo que sua oração havia sido ouvida e que o Imperador morreria na Pérsia, seria sucedido por um cristão, e a idolatria seria irremediavelmente destruída.
Depois de ouvir essas palavras, Artêmio serenamente abaixou a cabeça para a espada.
Comentários do Prof. Plinio:
Considerando a grandiosidade de Santo Artêmio, fica triste viver no século 20 quando governadores e presidentes são tão insignificantes e medíocres.
Santo Artêmio como soldado militante em defesa da honra de Deus e da Igreja
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É útil recompormos a cena para ter uma ideia melhor do que foi descrito.
Os senhores podem imaginar um anfiteatro romano com sua tribuna imperial, colunas e um dossel coberto com um rico material, o Imperador em uma cadeira majestosa com vários dignitários importantes sentados atrás dele. Vários escravos balançam leques de penas para frente e para trás para mover o ar e impedir que as moscas perturbem o Imperador. As pessoas lotam as arquibancadas, ocupando todas as vagas do estádio.
Perto do Imperador está sentado um alto oficial. Ele usa a armadura romana clássica com seu capacete característico. Este homem é um alto dignitário. A seleção diz que ele foi governador de duas províncias muito importantes do Império Romano e que tinha vindo trazendo novas tropas para a guerra contra a Pérsia. Ele foi, portanto, um convidado de honra.
Num determinado momento, enquanto dois padres católicos eram martirizados e o povo aplaudia o espetáculo como hienas, este homem se levanta e dirige palavras duras ao Imperador.
É um longo discurso durante o qual o Imperador permaneceu calado. É uma apóstrofe magnífica. Mostra que o militante católico nem sempre se põe na defensiva, mas também ataca, toma a iniciativa e desafia.
O Imperador não está satisfeito. Em vez de responder, ele pergunta o nome desse homem que ousou falar assim e manda que seja torturado. Ele tenta fazê-lo apostatar, mas quando não consegue, ordena que ele seja morto.
As palavras de Santo Artêmio merecem uma análise cuidadosa. Na primeira parte, ele pergunta ao Imperador o motivo pelo qual tortura aqueles homens santos. Sabendo que Juliano, o Apóstata, errou ao fazer isso, ele avisa o Imperador para ter cuidado porque ele pode muito bem ser um instrumento de Satanás para perseguir a Igreja Católica.
Então ele argumenta que é inútil persegui-la porque o poder do demônio foi quebrado por Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, quando Ele foi crucificado, quando Ele ressuscitou na Cruz. Qualquer tentativa de impedir o cristianismo de se propagar falharia, pois Satanás perdeu seu antigo poder.
Nisto existe um conceito muito profundo: que a principal força do mal e da heresia é a de Satanás. É um conceito que não homenageia a ingenuidade, o otimismo ou o liberalismo, imaginando que os hereges podem ser bem intencionados e o mal que praticam pode ser acidental. Santo Artêmio vai direto à raiz do problema e o explica. Ou seja, Satanás é o inspirador e o apoiador das heresias, e todo o mal procede dele. É um conceito eminentemente astuto e contra-revolucionário.
Em conclusão, diz que o Imperador está realizando uma obra injusta e fútil porque será derrotado. Ouvindo essa condenação, Juliano, o Apóstata, ordena que seus guardas prendam Artêmio. Esta é a grande primeira cena. Há outra, que os senhores podem imaginar em outra arena romana. É o cenário do martírio de Santo Artêmio.
A morte de Juliano, o Apóstata: sua pele foi pregada em um poste do portão - A Queda dos Príncipes, Biblioteca Britânica
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Antes de ser decapitado, ele faz uma oração, e uma voz vem do Céu para respondê-lo. Os senhores podem imaginar o silêncio do público. Aquele homem vigoroso e viril, aquele espírito inquebrantável, permanece sem medo no meio da arena e pede tempo para rezar. Ele reza em voz alta. Ele proclama que a perseguição que a Igreja está sofrendo nas mãos de Juliano, o Apóstata, é um castigo para a heresia do arianismo.
Por que a Igreja seria castigada por uma heresia que ela condenou? É porque ela condenou a heresia somente após um longo período de complacência. Quase todos os bispos se tornaram arianos. O mal foi tão generalizado que São Jerônimo, se não me engano, disse que um dia toda a Igreja despertou ariana.
Uma luta feroz foi necessária para derrotar o arianismo. Os poucos santos que defenderam a boa causa foram perseguidos e muito sangue foi derramado. O mundo não se converteu completamente do arianismo. Logo depois que a heresia ariana foi condenada, o semi-arianismo começou a propor os mesmos erros de uma forma mais sutil.
Portanto, um castigo era apropriado para aquele Império Romano depravado bem como para a Igreja decadente. Santo Artêmio declarou que Juliano, o Apóstata, foi o flagelo daquele castigo de Deus.
Podemos ver que este princípio histórico também se aplica aos nossos tempos. A suavidade daqueles que são chamados a combater as heresias de nosso século também merece um castigo. Esses supostos conservadores que veem a doutrina católica sendo atacada e não reagem de forma consistente são um polo que atrai a ira de Deus. Além disso, em vez de ajudar aqueles que tomam a posição certa e lutam contra os inimigos, eles os traem.
Voltemos à cena do martírio de Santo Artêmio. Ele ouviu uma voz do Céu afirmando que sua oração havia sido ouvida, que o Imperador morreria e a idolatria seria derrotada.
Depois disso, Santo Artêmio, como o Profeta Simeão, pediu a Deus para receber sua alma. Sua última oração pode ser entendida como uma paráfrase das palavras de Simeão. Essencialmente, Santo Artêmio disse: “Ó Senhor, agora podes receber Vosso servo em paz, porque meus ouvidos ouviram o anúncio da derrota do tirano e de Vossa vitória.”
O que Santo Artêmio não viu nem sabia é que muitos séculos depois as suas torturas e a forma viril de encontrar a sua morte nos encorajariam, pessoas de um continente que ele nem sabia que existia.
A sua morte é um estímulo para que soframos virilmente o que nos é pedido que soframos, para o que fazemos agora possa um dia ser também um estímulo para aqueles católicos que virão nos últimos tempos e terão de passar por combates semelhantes.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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