Seleção Biográfica:
Maria Francesca Cabrini nasceu em 15 de julho de 1850, a 13ª filha de piedosos camponeses da Lombardia. Ela recebeu sua vocação na Confirmação, assim como Santa Rosa de Lima e outras santas. Ela descreveu o momento de sua unção: “Senti algo além da explicação. A partir daquele momento eu não era mais da terra. Meu coração se encheu da mais pura felicidade. Eu sabia que o Espírito Santo tinha vindo a mim.”
Santa Francisca Cabrini, a primeira cidadã norte-americana canonizada
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Aos 18 anos, ela foi certificada como professora pelas Filhas do Sagrado Coração. Tentou entrar em várias congregações religiosas, mas sua saúde debilitada a impedia. Seu desejo mais ardente era fazer trabalho missionário.
Em 1871, o pároco dela pediu-lhe que lecionasse na escola pública de uma aldeia próxima. Três anos depois, as autoridades diocesanas pediram a Francisca que assumisse a direção de um orfanato de meninas mal administrado em Codogno e o organizasse com a estrutura e o espírito de um instituto religioso.
Não tardou para que ela logo tivesse um grupo de cinco ajudantes e com ela emitiram os votos religiosos em 1877. Foi nessa época que Francisca acrescentou Xavier ao seu nome para homenagear o grande missionário Francisco Xavier.
O Bispo de Losi, no entanto, se opôs à casa se tornar uma comunidade religiosa oficial e ordenou a Francisca, sob ameaça de excomunhão, dissolver sua pequena comunidade. Durante este período de prova, ela ofereceu seus sofrimentos com o objetivo de reparar a Nosso Senhor em Sua Agonia do Jardim, tanto pelo sono de seus discípulos quanto pelas infidelidades de seus superiores até o fim do mundo.
Quando a primeira casa foi dissolvida, o Bispo disse-lhe: “Sei que queres ser missionária, mas não vejo nenhuma congregação religiosa adequada para ti. Encontre uma.” A santa refletiu por um momento e respondeu: “Vou encontrar uma congregação religiosa que me convém.” O Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus foi fundado como congregação diocesana em 1881, com uma regra simples escrita por Madre Cabrini.
Madre Cabrini com os enfermos no hospital que ela fundou em Columbus, Chicago, 1872
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Ela partiu para Roma, com o objetivo de receber a aprovação pontifícia para um Instituto missionário universal com uma casa central em Roma. No dia 12 de março de 1888, Leão XIII concedeu uma audiência à jovem fundadora dos Missionários do Sagrado Coração, aprovou seu instituto e apontou a América do Norte como seu campo de atuação.
Lá ela poderia ajudar milhões de imigrantes italianos, muitos dos quais - longe de sua pátria e religião - se afastaram da prática de sua fé, perdidos no deserto de cimento das grandes cidades.
Trinta vezes ela cruzou o oceano, recrutando milhares de irmãs para os 67 hospitais, escolas e orfanatos que ela estabeleceu no Novo Mundo. “Vamos trabalhar, vamos trabalhar”, costumava dizer. “Teremos uma eternidade para descansar. Faça o que puder com um coração reto, e o Senhor fará o resto.” O lema de Santa Cabrini era “Amar ou morrer.”
Em 22 de dezembro de 1917, ela morreu de malária em seu próprio Hospital em Columbus, Chicago.
Comentários do Prof. Plinio:
Esta seleção sugere muitas ideias. O mais importante diz respeito à tristeza de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras e ao desejo de Madre Cabrini de repará-la até o fim do mundo.
Desde a juventude, Francisca teve o desejo de reparação
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Nos assuntos humanos, um homem pode ter uma grande dívida sem ter como pagá-la. Se ele tem um amigo rico, entretanto, esse amigo pode pagar a dívida por ele. Ao fazer isso, ele o livra da penalidade que, de outra forma, teria de pagar por sua insolvência. Isso - que é muito fácil de entender nas relações terrenas - tem um significado muito maior quando aplicado às relações sobrenaturais, nas nossas relações com Deus.
Temos dívidas para com Deus Nosso Senhor; cometemos pecados que nos afastaram da graça de Deus. Por isso, precisamos de alguém para pagar essa dívida por nós, porque não podemos pagá-la nós mesmos. Como pode um pecador pagar, já que está em pecado? Ele não agrada a Deus. Nada do que ele faz pode ser aceito por Deus. Portanto, é necessário que outra pessoa pague pelo culpado. Uma pessoa inocente deve assumir para si um sofrimento correspondente ao prazer ilícito que o pecador desfrutou.
Por exemplo, imagine que um homem preguiçoso perca uma Missa dominical porque deseja desfrutar do seu descanso. Alguém tem que pagar por esse prazer ilícito. Uma pessoa inocente deve fazer a restituição por aquele pecado com uma quantidade proporcional de sofrimento. Isso basicamente explica a reparação.
Às vezes, Deus pune o pecador real para que a reparação seja feita por meio de seu castigo. Deus permite que coisas más aconteçam ao pecador para que ele possa restituir o prazer ilícito que obteve. Outras vezes, Deus aceita a oferta de outra pessoa, uma pessoa inocente que sofre pelo pecador. Na verdade, às vezes o pecado foi tão grande que uma única pessoa não pode pagar por ele. Ainda outras vezes, Deus espera a reparação para deixar um inocente mostrar seu amor por ele.
Por estas várias razões, Deus chama as almas para expiar os pecados, para os reparar.
Ela trouxe muitos mineiros imigrantes Italianos no Colorado de volta à prática da fé
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O que significa reparação? Quando um pedaço de pano se rasga, consertá-lo significa costurá-lo novamente. A costureira faz uma nova costura para reparar as fibras rasgadas do tecido.
Analogamente, reparar os pecados de outra pessoa é restaurar essa pessoa à posição que tinha diante de Deus. Isso se consegue por meio do sofrimento, que atrai a misericórdia de Deus, que volta a olhar para aquela pessoa. O pecador recebe novas graças, se converte e pode cumprir a vocação que recebeu antes de pecar.
Nosso Senhor Jesus Cristo ofereceu seus sofrimentos na Cruz como expiação pelos nossos pecados. Foi a única reparação completa, total e verdadeira. Mas Ele deseja que os homens também sofram uns pelos outros para imitá-Lo e de alguma forma completar sua Redenção infinitamente preciosa. Ele bate na porta da alma e pergunta: “Meu filho, você não aceita este sacrifício para pagar pelos seus pecados? Você aceitará este outro sofrimento pela Igreja Católica? Você vai assumir esse fardo para o bem dessa alma? Dê a esmola deste sacrifício, eu imploro.”
Se queremos converter pessoas, se queremos corrigir nossos defeitos, devemos sofrer por eles. Isso é reparação. Nossa Senhora - que tinha sete espadas de dor enterradas no coração - foi o modelo de quem reparou por todos nós.
Essa necessidade de reparação foi o que moveu Santa Francisca Cabrini. Ela optou por fazer expiação pela culpa dos Apóstolos no Horto das Oliveiras. Sabemos que os Apóstolos, os primeiros Bispos, dormiram quando Nosso Senhor transpirava sangue.
Então, ela reparou aquele comportamento vergonhoso. Também viu membros da Hierarquia de seu tempo fazendo coisas erradas e omitindo outras coisas boas que deveriam ter sido feitas. Pela preguiça, infidelidade e egoísmo dos líderes da Igreja de seu tempo, ela reparou.
Trabalhando entre imigrantes
Italianos nas cidades dos EUA
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Esta seleção relata o enorme esforço que ela fez nos Estados Unidos, os milhares de almas que recrutou mediante a devoção do Sagrado Coração de Jesus e como eles perseveraram na fé. Tudo isso Madre Cabrini ofereceu com a mesma intenção de reparação que fizera no início.
Quem sabe se seus sacrifícios expiatórios contribuíram para que São Pio X se tornasse Papa? Esse grande Papa infligiu uma grande derrota ao Modernismo, e até hoje o progressismo, herdeiro do Modernismo, não foi capaz de se recuperar completamente dela.
O apostolado principal de Madre Cabrini era preservar os imigrantes italianos da influência americana. Os imigrantes italianos na América do Norte estavam em situação diferente daqueles que vieram para a América do Sul - principalmente para o Brasil e Argentina, aonde a maioria veio. Nos países católicos, eles encontraram uma mentalidade Latina. Eles se integraram e se encaixaram nesta mentalidade sem nenhum problema.
Aqueles milhões de italianos que desembarcaram em Nova York, porém, encontraram um país protestante e já altamente industrializado. Enfrentaram uma mentalidade produtiva muito diferente, onde tudo era feito em alta velocidade para aumentar a margem de lucro. Era o oposto do espírito latino a que estavam acostumados na Itália. Também era completamente diferente do modelo contemplativo de uma alma voltada para a reparação. Madre Cabrini ia lá para evitar que fossem assimilados por aquele espírito mercantilista revolucionário. - Que exemplo extraordinário para nós.
Peçamos a Santa Francisca Cabrini que nos dê o seu espírito reparador para que as muitas misérias dentro da Igreja possam ser resolvidas. Peçamos também a Nossa Senhora que tome nossos miseráveis sacrifícios e os purifique, eleve e santifique, e então os apresente diante de Deus Nosso Senhor.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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