Seleção Biográfica:
“Agora Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fez grandes maravilhas e milagres entre o povo.
Santo Estêvão de Giotto |
“Porém alguns da sinagoga, chamada dos libertos, dos cirenenses, dos alexandrinos e dos que eram da Cilícia e da Ásia, levantaram-se a disputar com Estêvão, e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito que inspirava suas palavras ….
“Ao ouvir tais palavras, enraiveciam-se nos seus corações e rangiam os dentes contra ele. Mas, como ele estava cheio do Espírito Santo, olhando para o Céu, viu a glória de Deus e Jesus que estava em pé à direita de Deus. E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita de Deus.
“Então eles, levantando um grande clamor, taparam os ouvidos, e todos juntos arremeteram contra ele com fúria. Tendo-o lançado fora da cidade, o apedrejaram; as testemunhas depuseram os seus vestidos aos pés de um jovem chamado Saulo.
“Apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
“E, posto de joelhos, clamou em voz alta, dizendo: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu no Senhor.” (Atos 6,8-10; 7,54-59)
Comentários do Prof. Plinio:
O texto é tão belo que quase todas as frases merecem um comentário. A cena se desenvolve em etapas sucessivas, cada qual com seu personagem.
O primeiro passo apresenta Santo Estêvão como fazendo coisas maravilhosas. Os imponderáveis da linguagem das Escrituras transmitem a imagem de um homem virginal, e então o texto acrescenta que ele era cheio de graça e força. Para descrever Santo Estêvão, o Espírito Santo utilizou a mesma expressão - “cheio de graça” - que o Arcanjo Gabriel usou para saudar Nossa Senhora, o que é uma grande honra para Santo Estêvão. Ele era um homem com a plenitude de força, e a plenitude de virtude e graça que atuava nele.
Santo Estêvão disputando com Judeus de várias sinagogas em Jerusalém por Vittore Carpaccio
Cheios de ódio por sua bondade, eles decidem assassiná-lo
O apedrejamento de Santo Estêvão, por Fra Angélico |
No segundo passo, aprendemos sobre as pessoas a quem ele estava pregando. Ele estava operando seus milagres no meio daqueles Judeus apóstatas. Jerusalém foi um ponto de convergência para Judeus de muitas partes do mundo. É por isso que as Escrituras especificam as diferentes sinagogas dos povos - os libertos, cirenenses, alexandrinos e assim por diante. Ao testemunhar os milagres de Santo Estêvão, essas pessoas o odiaram e começaram a recorrer a chicanas e sofismas para envergonhá-lo.
No terceiro passo, vemos sua disputa com os judeus. Ele respondeu tão bem aos seus adversários que a polêmica iniciada pelos judeus saiu pela culatra para eles. Eles ficaram confusos e pasmos. Antes disso, eles não podiam apoiar seus milagres, e depois que ele argumentou, eles não podiam apoiar sua argumentação soberba. O ódio deles aumentou na medida em que Santo Estêvão manifestou os aspectos admiráveis de sua alma.
No quarto passo, , esse ódio aumentou e as pessoas que se opunham a Santo Estêvão começaram a ranger os dentes de fúria. Qual foi o objeto desse ódio? Era uma bondade em si mesma. Odiavam o bom porque o bom é bom e não por qualquer outro motivo. Uma pessoa que não entende a realidade diria: "Não, eles não gostaram dele porque ele cometeu este ou aquele pequeno erro ao explicar seu assunto, ou ele não tinha habilidade para tratar de um determinado assunto." Essa pessoa tem uma interpretação errônea da realidade.
Esses judeus entenderam perfeitamente o que Santo Estêvão estava dizendo e fazendo. Eles viram que essas coisas eram maravilhosas e as odiaram porque eram boas. A natureza do mal é tal que ataca o bem porque é bom. Esta é a perfídia do mal. Esta é a essência de sua iniquidade. Quanto mais o bem e a verdade se manifestam, mais os filhos das trevas os odeiam.
Esse foi o mesmo povo que preferiu Barrabás a Nosso Senhor, e clamou por sua morte. Esta é a iniquidade do mal e a malícia do pecado. Essa malícia é diferente daquela de uma pessoa que comete um pecado. Esse tipo de malícia vem de quem rejeitou o bem e ama o mal que faz.
No quinto passo, após encerrar a polêmica, Santo Estêvão ergueu os olhos para o Céu e deu testemunho da divindade de Nosso Senhor, a quem ele via em uma visão. Ele falava de uma forma que não deixava margem para dúvidas de que estava falando a verdade. Suas palavras refletiam o Espírito Santo que enchia sua alma. Ele estava experimentando um êxtase místico, e essa realidade sobrenatural se tornou aparente para aqueles ao seu redor.
Alguém poderia objetar que teria sido mais prudente e eficaz para Santo Estêvão ter fugido do desafio. Ele teria vivido mais e talvez convertido aqueles homens. A resposta é que Santo Estêvão estava cheio do Espírito Santo quando respondeu como fez. Portanto, ele agiu corretamente.
Também no início da disputa, não havia certeza de que a turba o mataria. Se essas pessoas correspondessem à graça, elas teriam se convertido. Ele agiu como fez para convertê-los. Ele mostrou-lhes maravilhas cada vez maiores. Ele estava tentando tocar essas almas e conquistá-las para o bem. Mas eles recusaram todas essas graças. Quando o episódio atingiu o ápice, eles tomaram a decisão de apedrejá-lo. Ele usou o método perfeito de apostolado: ele tentou iluminar suas inteligências e comover seus corações.
O sexto passo é o assassinato. Os presentes fingiram estar chocados com as supostas palavras blasfemas de Santo Estêvão e taparam os ouvidos. Ao mesmo tempo, eles decidiram matá-lo. Eles deixaram seus mantos ao lado de um homem chamado Saulo, que seria o futuro São Paulo segundo muitos intérpretes, e foram apedrejar o Santo.
Como um segundo Cordeiro de Deus, ele ficou sozinho, olhando para o Céu, o sangue escorrendo de suas feridas, mas sereno e dizendo a oração: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Os senhores podem imaginar a impressão que isso causou nos espectadores.
Então, como as pedras continuaram a atingi-lo, ele caiu de joelhos e pediu a Nosso Senhor que perdoasse aqueles criminosos. Finalmente, “ele adormeceu no Senhor.” Acabou tudo. Seu corpo estava coberto de sangue e feridas, mas em seu rosto havia uma expressão tranquila. Ele havia entrado no sono dos justos. Seu martírio foi consumado e sua alma voou para o Céu. Vemos uma cena verdadeiramente digna de ser o primeiro martírio da Igreja, descrita com a linguagem inspirada das Escrituras.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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