Seleção Biográfica:
Santo Eulógio foi um sacerdote Espanhol e mártir do século 9. Por causa de sua confissão destemida e intrépida de Cristo, ele foi açoitado e espancado com varas e, finalmente, decapitado durante uma perseguição sarracena na cidade de Córdoba.
Mártir decapitado, por Lochner
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No ano de 850, o califa local iniciou uma violenta perseguição aos católicos. Santo Eulógio, membro de uma das famílias mais ilustres da região, se destacou por seus escritos em defesa dos vários mártires daquela perseguição.
Ele defendeu os mártires voluntários que se apresentaram para se mortos, uma posição criticada por muitos como precipitada. Os muçulmanos, surpresos ao ver tantos católicos se oferecendo como mártires, ficaram com medo de uma revolta deles que poderia ameaçar seu governo.
O califa Abd-er-Rahman II convocou os bispos para se reunirem em Córdoba e pôr fim a esses martírios voluntários. Na verdade, o concílio se reuniu e proibiu qualquer um daquele momento em diante se oferecer como mártir. Mas o concílio o fez em termos ambíguos e alegóricos para que os bispos pudessem permanecer nas boas graças do califa, sem condenar diretamente os mártires, que eram muito populares.
Santo Eulógio não aprovou esta dissimulação e resistiu fortemente. Como resultado, ele foi perseguido tanto pelos muçulmanos quanto pelos cristãos que eram a favor da adaptação da Fé para apaziguar os muçulmanos governantes. Firme na defesa dos mártires voluntários, foi decapitado em 11 de março de 859.
Comentários do Prof. Plinio:
Naquela época, havia dois problemas diferentes: um moral e outro político.
O problema moral é baseado em uma pressuposição psicológica. Para muitas pessoas, é um tormento insuportável passar a vida fugindo do perigo. A perseguição do século 9 na Espanha obrigou os católicos a se esconderem e correrem à noite de um lugar para outro a fim de evitar serem pegos e mortos. Para alguns desses era muito mais fácil se apresentar às autoridades árabes e dizer: “Eu sou católico. Mate-me se assim o desejar". Era uma forma de acabar com a aflição de fuga constante.
Essa posição psicológica, que é compreensível, vem acompanhada de um problema moral. Seria esta libertação voluntária para o martírio uma espécie de suicídio? É uma pergunta válida. Santo Eulógio defendeu esses mártires espanhóis, como fez São Francisco de Sales muitos séculos depois. Ambos argumentaram que esta ação não constituiu suicídio, e que aqueles que agiram dessa forma eram verdadeiros católicos e verdadeiros santos.
De qualquer forma, esta foi a razão pela qual muitos católicos se entregaram ao martírio dessa maneira. O número de mártires crescia tanto que o califa de Córdoba ficou preocupado e decidiu convocar um concílio de Bispos para que acabassem com aquilo.
Os
Juízes do Milênio e as Almas dos Mártires (representados como pombas) Biblioteca Pierpont Morgan
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Parece estranho que um califa pudesse convocar um concílio de Bispos, mas é preciso lembrar que a religião católica só era tolerada pelos muçulmanos com a condição de que os católicos não causassem problemas às autoridades. Portanto, os Bispos estavam sob pressão e obedeciam. É semelhante à política que o comunismo adota nos países que domina.
Tolera a religião católica apenas enquanto não criar problemas que possam ameaçar sua estabilidade. É uma política ruim, mas inteligente, pois esmaga os católicos autênticos e permite que apenas os colaboradores sobrevivam. Os bons católicos são destruídos ou forçados à clandestinidade.
Como o número de mártires voluntários em Córdoba estava aumentando, o califa temeu que esse fenômeno pudesse gerar uma radicalização geral que colocasse em risco o domínio muçulmano sobre aquela parte da Espanha. Assim, ele convocou um concílio para pôr fim à pregação de Santo Eulógio contra o islamismo e seu louvor ao movimento do martírio voluntário. Como o califa esperava, o concílio condenou tanto o Santo quanto o martírio voluntário.
Essa condenação foi ambígua e infundada. Santo Eulógio resistiu à ordem e continuou a apoiar corajosamente os mártires. Ele foi tão ousado em sua defesa que a única maneira que encontraram para silenciá-lo foi matando-o. Ele se tornou um mártir.
Qual é a lição que podemos tirar disso? Em todas as épocas da Igreja existem duas correntes em seu seio. A pessoa deseja ser fiel à Fé como ela é. Outra é composta de católicos suaves que desejam se acomodar, levar uma vida boa, morrer tranquilamente e, para isso, comprometem a Fé. Uma é a corrente de heroísmo e a outra de acomodação, transigência e traição. Hoje, temos aqueles verdadeiros católicos que querem manter a Igreja com o rosto que ela sempre teve, e aqueles católicos comprometidos que querem se adaptar, assim como a Fé católica, às exigências da Revolução em nossos dias.
Santo Eulógio lutou como um leão e passou pelo difícil julgamento de ser condenado pelo episcopado católico. É fácil imaginar como isso fez sofrer um homem com alma de santo. Não obstante, resistiu aos maus Bispos e, ao fazê-lo, deu-nos um exemplo de como deve ser um autêntico amor à Igreja. Ou seja, devemos amar a Igreja e suas instituições de tal forma que, mesmo que os homens que ocupam cargos de autoridade nos condenem, defendamos a Fé contra eles, pois devemos obedecer primeiro a Deus e depois aos homens.
Devemos estar dispostos a sofrer as condenações e perseguições daqueles que desejam acomodar a Fé ao mundo. Neste sentido, Santo Eulógio é o nosso padroeiro, e lhe devemos pedir que nos dê o tipo especial de coragem para enfrentar tais situações, que em muitos casos é mais meritório do que a coragem do martírio.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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