O Santo do Dia
São Domingos de Gusmão - 4 de Agosto
Seleção Biográfica:
Neste excerto da obra Diálogo da Divina Providência (1370), Deus Pai fala a Santa Catarina de Sena, da Ordem Terceira Dominicana, sobre seu Fundador. Deus disse a Santa Catarina:
“Foi precisamente à luz da ciência que o Pai dos Pregadores estabeleceu o seu fundamento principal. E fez dele o seu fim e a sua arma de combate para extirpar os erros que surgiram no seu tempo. Ele assumiu a função do Verbo meu Filho, semeando a minha palavra, dissipando as trevas, iluminando a terra. Maria, por quem Eu o dei ao mundo, fez dele o extirpador de heresias."
Dom Guéranger comenta este trecho em O Ano Litúrgico:
Assim, a Ordem, chamada a ser o principal suporte do Papado na erradicação da doutrina perniciosa, deve se possível justificar esse nome extirpador de heresias ainda mais do que seu Patriarca. O primeiro tribunal da Santa Inquisição Romana Universal, o Santo Ofício, verdadeiramente investido do Ofício da Palavra com sua espada de dois gumes (Apoc 19,11-16) – para converter e para castigar - não poderia encontrar instrumento mais fiel ou mais certo do que a Ordem Dominicana.
Mal pensava Santa Catarina de Sena ou o ilustre autor da Divina Comédia que chegaria um tempo em que esse título principal da Família Dominicana [extirpador de heresias], que conquistou o reconhecimento e o amor agradecido do povo, iria ser discutido numa certa escola [liberal] de apologética, e ali descartado como um insulto.
A época atual se gloria num liberalismo que deu provas de seu poder ao multiplicar as ruínas e que não se baseia em melhor base filosófica do que uma estranha confusão entre licenciosidade e liberdade.
Apenas essa rasteira intelectual poderia ter falhado em compreender que, em uma sociedade que tem a Fé como base de suas instituições, bem como o princípio de salvação para a humanidade, nenhum crime poderia ser igual ao de abalar o fundamento sobre o qual repousam os interesses sociais e o bem mais precioso dos indivíduos. Nem o ideal de justiça, nem muito menos o de liberdade, poderia consistir em deixar à mercê dos homens vis ou maus, os fracos que não podem se proteger.
Essa verdade era o axioma e a glória da cavalaria. Os irmãos de Pedro o Mártir (Dominicanos) dedicaram suas vidas para proteger a segurança dos filhos de Deus contra as surpresas do “homem forte e armado” (Lc 11,21) e dos “negócios dos que andavam nas trevas” (Sl 91,6). Foi a honra do “rebanho santo” conduzido por Domingos por um caminho “no qual bem se engorda se não se desgarrar” (Dante, Paraíso, X, 94-96).
Comentários do Prof. Plinio:
Esta seleção é um bom e raro exemplo do que deve ser uma descrição não-heresia branca. (1) Louvar a defesa da boa doutrina é excelente!
Em contraste, os senhores podem ver o quanto a heresia branca penetrou na apresentação das hagiografias. Considere qualquer vida de um santo escrito de acordo com a concepção da
heresia branca: geralmente há sempre este sentimento: “Ele era tão bommm..., perdoou seus inimigos, curou muitos enfermos e agradou as criancinhas...” Em outras palavras, a santidade sempre deve expressar doçura no tratamento com os outros.
É muito difícil ver alguém elogiar um santo da seguinte maneira: “Ele zelosamente guardava a sã ortodoxia da doutrina, odiava e extirpava a heresia.” Para a concepção da heresia branca essa luta pela ortodoxia pertence à esfera intelectual e não deve ser vista como uma virtude moral. Esse elogio também pareceria impróprio porque o homem que combateu a heresia fez outros sofrerem e, assim, tornou-se desagradável.
Em tempos passados, quando a santidade ainda era a norma para o clero, havia um Prelado de alta posição aqui no Brasil que dava ao seu secretário este conselho:
“Padre X, o senhor deve tomar como norma de santidade tudo o que julgar ser bom, mas não fazer nada que possa fazer alguém sofrer, porque isso não seria uma boa ação. O homem bom nunca faz uma pessoa sofrer.”
Este conselho reflete uma mentalidade estritamente heresia branca. Não se compreende nem a necessidade de defender a doutrina católica nem a necessidade de corrigir os que erram. Os adeptos dessa mentalidade dizem: “Esta é uma preocupação intelectual, uma questão para os estudiosos; não é virtude.”
Pois bem, o contrário é verdade. O amor de Deus deve necessariamente expressar o amor pelo que a boa doutrina diz sobre Deus. Eu conheço a Deus por meio de boa doutrina. Amo a Deus de acordo com o que a boa doutrina me ensinou. Portanto, é pela boa doutrina que conheço Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, e o que Ele ensinou e fez. Ortodoxia nada mais é do que o amor de Deus. Portanto, é absurdo fingir ter virtude sem ortodoxia; outro absurdo é fingir ser ortodoxo sem odiar o mal.
Portanto, a primeira virtude deve ser manter a ortodoxia da doutrina, pois é um dos aspectos do amor de Deus. Quem diz ortodoxia, necessariamente fala combatividade. Quanto mais o homem é combativo, mais ortodoxo ele é e mais ama a Deus.
Este é um primeiro conjunto de observações que vem à mente após a leitura do trecho de Dom Guéranger elogiando a grande missão da Ordem Dominicana.
A segunda observação é que este excerto é uma bela defesa da legitimidade da Inquisição, das Guerras Santas e da polêmica, que o pacifismo faz um grande esforço para negar.
Gostaria de ressaltar aqui, quando algum Estado dá a possibilidade de propagação do erro, esse Estado está implicitamente apoiando a perseguição à verdade; quando um Estado dá liberdade aos maus, está implicitamente apoiando a perseguição dos bons. Pertence à própria natureza do erro ser contagioso; depois do pecado original, o homem tem um apetite natural pelo erro. Portanto, quando se dá liberdade ao erro, mais cedo ou mais tarde o erro estará perseguindo a verdade.
Em uma passagem magnífica, Donoso Cortês, pensador espanhol ultramontano do século 19, afirmava que o milagre da existência da Igreja Católica não consistia em Ela ser aceita por ser boa e santa, mas sim apesar de ser boa e santa. Os homens têm uma atração enorme pelo erro e pelo mal. Se dermos liberdade ao mal e ao erro, eles atingem os homens. Portanto, não há pior tirania e crueldade do que defender a liberdade para o erro e o mal.
Dom Guéranger expõe bem qual era o ideal da Cavalaria: defender as viúvas, os órfãos e os fracos. Eu pergunto: não são as almas ignorantes de hoje mais abandonadas do que as viúvas e os órfãos na Idade Média? Não estão as almas com más tendências hoje mais expostas ao erro do que as viúvas e órfãos no tempo da Cavalaria? Sim, elas estão. E sabemos que é mais importante defender a alma do que o corpo.
Em consequência, a nobreza cavalheiresca em nossos dias está concentrada naqueles que corajosamente combatem o erro e o mal.
Há uma observação histórica melancólica que não posso deixar de fazer: Se os senhores considerarem o que foi a Ordem Dominicana e o que é hoje no Brasil, compreenderão a enorme decadência em que caiu. Também entenderão que o pior mal do nosso século não é que os comunistas sejam o que são. O pior mal é que aqueles que deveriam combater o comunismo são o que são e adotaram as posições erradas que assumiram hoje.
No dia da festa de São Domingos, é mais para oferecer a nossa oração esta noite como uma espécie de reparação feita ao santo fundador dos Dominicanos pela ofensa que hoje está a receber pela perversão da sua admirável Ordem, e pedir-lhe que nos defenda dos ataques dos seus filhos que partiram extraviados.
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
Neste excerto da obra Diálogo da Divina Providência (1370), Deus Pai fala a Santa Catarina de Sena, da Ordem Terceira Dominicana, sobre seu Fundador. Deus disse a Santa Catarina:
“Foi precisamente à luz da ciência que o Pai dos Pregadores estabeleceu o seu fundamento principal. E fez dele o seu fim e a sua arma de combate para extirpar os erros que surgiram no seu tempo. Ele assumiu a função do Verbo meu Filho, semeando a minha palavra, dissipando as trevas, iluminando a terra. Maria, por quem Eu o dei ao mundo, fez dele o extirpador de heresias."
São Domingos protegendo as freiras de sua Ordem
Assim, a Ordem, chamada a ser o principal suporte do Papado na erradicação da doutrina perniciosa, deve se possível justificar esse nome extirpador de heresias ainda mais do que seu Patriarca. O primeiro tribunal da Santa Inquisição Romana Universal, o Santo Ofício, verdadeiramente investido do Ofício da Palavra com sua espada de dois gumes (Apoc 19,11-16) – para converter e para castigar - não poderia encontrar instrumento mais fiel ou mais certo do que a Ordem Dominicana.
Mal pensava Santa Catarina de Sena ou o ilustre autor da Divina Comédia que chegaria um tempo em que esse título principal da Família Dominicana [extirpador de heresias], que conquistou o reconhecimento e o amor agradecido do povo, iria ser discutido numa certa escola [liberal] de apologética, e ali descartado como um insulto.
A época atual se gloria num liberalismo que deu provas de seu poder ao multiplicar as ruínas e que não se baseia em melhor base filosófica do que uma estranha confusão entre licenciosidade e liberdade.
São Pedro de Verona assassinado por um herege cátaro
Essa verdade era o axioma e a glória da cavalaria. Os irmãos de Pedro o Mártir (Dominicanos) dedicaram suas vidas para proteger a segurança dos filhos de Deus contra as surpresas do “homem forte e armado” (Lc 11,21) e dos “negócios dos que andavam nas trevas” (Sl 91,6). Foi a honra do “rebanho santo” conduzido por Domingos por um caminho “no qual bem se engorda se não se desgarrar” (Dante, Paraíso, X, 94-96).
Comentários do Prof. Plinio:
Esta seleção é um bom e raro exemplo do que deve ser uma descrição não-heresia branca. (1) Louvar a defesa da boa doutrina é excelente!
Algumas representações 'heresia branca' do grande extirpador de heresias, São Domingos
É muito difícil ver alguém elogiar um santo da seguinte maneira: “Ele zelosamente guardava a sã ortodoxia da doutrina, odiava e extirpava a heresia.” Para a concepção da heresia branca essa luta pela ortodoxia pertence à esfera intelectual e não deve ser vista como uma virtude moral. Esse elogio também pareceria impróprio porque o homem que combateu a heresia fez outros sofrerem e, assim, tornou-se desagradável.
Em tempos passados, quando a santidade ainda era a norma para o clero, havia um Prelado de alta posição aqui no Brasil que dava ao seu secretário este conselho:
“Padre X, o senhor deve tomar como norma de santidade tudo o que julgar ser bom, mas não fazer nada que possa fazer alguém sofrer, porque isso não seria uma boa ação. O homem bom nunca faz uma pessoa sofrer.”
Este conselho reflete uma mentalidade estritamente heresia branca. Não se compreende nem a necessidade de defender a doutrina católica nem a necessidade de corrigir os que erram. Os adeptos dessa mentalidade dizem: “Esta é uma preocupação intelectual, uma questão para os estudiosos; não é virtude.”
Pois bem, o contrário é verdade. O amor de Deus deve necessariamente expressar o amor pelo que a boa doutrina diz sobre Deus. Eu conheço a Deus por meio de boa doutrina. Amo a Deus de acordo com o que a boa doutrina me ensinou. Portanto, é pela boa doutrina que conheço Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, e o que Ele ensinou e fez. Ortodoxia nada mais é do que o amor de Deus. Portanto, é absurdo fingir ter virtude sem ortodoxia; outro absurdo é fingir ser ortodoxo sem odiar o mal.
Portanto, a primeira virtude deve ser manter a ortodoxia da doutrina, pois é um dos aspectos do amor de Deus. Quem diz ortodoxia, necessariamente fala combatividade. Quanto mais o homem é combativo, mais ortodoxo ele é e mais ama a Deus.
Este é um primeiro conjunto de observações que vem à mente após a leitura do trecho de Dom Guéranger elogiando a grande missão da Ordem Dominicana.
As Cruzadas e a queima de livros de hereges são atos louváveis em defesa da Fé Católica
Gostaria de ressaltar aqui, quando algum Estado dá a possibilidade de propagação do erro, esse Estado está implicitamente apoiando a perseguição à verdade; quando um Estado dá liberdade aos maus, está implicitamente apoiando a perseguição dos bons. Pertence à própria natureza do erro ser contagioso; depois do pecado original, o homem tem um apetite natural pelo erro. Portanto, quando se dá liberdade ao erro, mais cedo ou mais tarde o erro estará perseguindo a verdade.
Em uma passagem magnífica, Donoso Cortês, pensador espanhol ultramontano do século 19, afirmava que o milagre da existência da Igreja Católica não consistia em Ela ser aceita por ser boa e santa, mas sim apesar de ser boa e santa. Os homens têm uma atração enorme pelo erro e pelo mal. Se dermos liberdade ao mal e ao erro, eles atingem os homens. Portanto, não há pior tirania e crueldade do que defender a liberdade para o erro e o mal.
Dom Guéranger expõe bem qual era o ideal da Cavalaria: defender as viúvas, os órfãos e os fracos. Eu pergunto: não são as almas ignorantes de hoje mais abandonadas do que as viúvas e os órfãos na Idade Média? Não estão as almas com más tendências hoje mais expostas ao erro do que as viúvas e órfãos no tempo da Cavalaria? Sim, elas estão. E sabemos que é mais importante defender a alma do que o corpo.
Em consequência, a nobreza cavalheiresca em nossos dias está concentrada naqueles que corajosamente combatem o erro e o mal.
Há uma observação histórica melancólica que não posso deixar de fazer: Se os senhores considerarem o que foi a Ordem Dominicana e o que é hoje no Brasil, compreenderão a enorme decadência em que caiu. Também entenderão que o pior mal do nosso século não é que os comunistas sejam o que são. O pior mal é que aqueles que deveriam combater o comunismo são o que são e adotaram as posições erradas que assumiram hoje.
No dia da festa de São Domingos, é mais para oferecer a nossa oração esta noite como uma espécie de reparação feita ao santo fundador dos Dominicanos pela ofensa que hoje está a receber pela perversão da sua admirável Ordem, e pedir-lhe que nos defenda dos ataques dos seus filhos que partiram extraviados.
A família dos Santos Dominicanos se destacou em sua luta contra as heresias
- “Heresia branca” é um jargão entre os contrarrevolucionários que indica uma mentalidade sentimental que se manifesta principalmente como uma doce piedade e uma posição doutrinária não militante e relativista, que sempre desculpa os outros, inclusive os inimigos, sob o pretexto de que eles merecem “caridade.” Essa mentalidade abre caminho para a heresia propriamente dita. Portanto, essa preparação tendencial para a heresia real - a “heresia negra” - é chamada de “heresia branca.”
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Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.