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Dia de Finados - 2 de Novembro

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
O Dia de Finados tem um grande significado para nós. É o dia em que rezamos por todos os fiéis e por todas as almas que morreram e possivelmente estão no Purgatório. É também o dia em que a Igreja - com o tato que lhe é próprio - nos lembra a realidade da morte.

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Jó sofreu todos os tormentos

Por um lado, a Igreja aponta para uma falésia sob os nossos pés e faz-nos ver uma multidão de almas que se encontram em estado de castigo e sofrimento. Por outro, ela nos mostra a miséria da morte, sua destruição do corpo e a miséria da alma que não vai direto para o Céu.

Seria belo ver na liturgia do Dia de Finados algumas frases de Jó, as lamentações de um homem à beira da loucura que cai nas mandíbulas da morte, inteiramente isolado, com os ossos calcinados, a carne reduzida a pó e o choro amargo que inunda a alma separada do corpo. Seria bom ver lembrado na liturgia a miséria daquele pecador instalado em um lugar de castigo à espera da misericórdia de Deus, a misericórdia do Deus vivo.

De vez em quando devemos meditar sobre a morte para entender o que é profundamente real na advertência que o sacerdote faz a cada um de nós na Quarta-Feira de Cinzas: “Lembra-te, homem, és pó, e ao pó voltarás.” Isso nos dá uma compreensão da dimensão real de todas as coisas nesta vida.

Há pessoas que imaginam que sempre terão algum tempo de sobra para se preparar para a morte; que eles terão uma longa doença que irá desgastar lentamente sua saúde até que morram. Assim, quando se sentem saudáveis, têm uma segurança relativa de que não morrerão repentinamente.

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Uma máxima medieval: Memento mori - Lembre-se da morte

Isso não é verdade. Podemos morrer repentinamente em um acidente ou de uma dessas condições médicas imprevisíveis e a medicina só pode ser explicada depois que acontecem. A qualquer momento podemos morrer.

Se algum de nós pode morrer a qualquer momento, todos os nossos desejos e ações nesta vida parecem inúteis. Vamos morrer e acabar no cemitério. Uma meditação sobre a morte é uma boa maneira de criar desapego das coisas desta terra; humilha nosso orgulho e nos faz entender que em um só momento podemos morrer e comparecer ao tribunal de Deus.

Quem entre nós sabe se volta para casa vivo esta noite? Quem sabe se em uma hora estará diante do tribunal de Deus? Quem pode ter certeza de que não estará queimando hoje nas chamas do Purgatório ou do Inferno?

Sem essa incerteza sobre a morte, a vida não tem grandeza. Nada é belo, nada é atraente sem a figura da morte no final da estrada. Porque é apenas por contraste que o homem avalia a natureza transitória das coisas nesta vida; só contrastando a vida com esta miséria fundamental é que compreendemos como tudo o que queremos aqui é pequeno face ao destino que nos espera, que é a morte.

A mentalidade moderna abomina a dor

É por isso que os progressistas querem acabar com tudo na liturgia que representa a morte. Conheci um deles que preconizava o uso de vestes brancas para o luto, explicando: “É um dia de alegria! A pessoa vai para o Céu e a família deve ficar feliz...”

Esse tipo de progressista não quer usar vestes pretas porque tem medo de pensar na morte, pois sua consciência não está em paz.

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Uma senhora de luto profundo na Nova Inglaterra colonial

No passado, algumas viúvas costumavam usar roupas pretas da cabeça aos pés. Elas até cobriam o rosto com um véu preto transparente durante o período de luto pesado ou profundo. Só quando recebiam visitas ou ia visitar as pessoas para agradecer as condolências recebidas, é que levantavam o véu para conversar um pouco. Mas elas cobriam seus rostos novamente logo que a visita encerrasse.

Havia também o que era chamado de “luto leve,” que consistia em vestir-se de preto e branco. Esse luto foi adotado por parentes distantes ou por parentes próximos após um certo período. Só depois de um ou dois anos o período de luto terminava.

A Revolução abomina a dor. Devemos enfrentar a morte com serenidade e grandeza, enfrentando até o que ela tem de aflitivo e tremendo. O ser inteligente tem tal grandeza que, diante da catástrofe da morte, o homem tem a certeza de que outra vida e outro destino o aguardam.

A consideração da morte é benéfica; a consideração do sofrimento também é benéfica. Às vezes tenho o desejo de levar alguém em um breve passeio e levá-lo a um hospital para ver algumas pessoas gravemente doentes - um homem com câncer, outro com uma úlcera grave no braço - para que ele possa compreender o papel do sofrimento na vida. Não podemos ter uma vida de boneca de porcelana, ignorando o sofrimento e sem coragem de vê-lo cara a cara.

O livro de Jó contém alguns textos que são descrições magníficas de tristezas. Nunca vi tanta majestade na tristeza como no livro de Jó. Se Nosso Senhor disse que Salomão em sua glória não era adornado como os lírios do campo, então creio que também podemos dizer que Luís XIV em todo o seu esplendor não teve a majestade de Jó em seus sofrimentos. As lamentações de Jó estão entre as coisas mais majestosas que existem nesta terra.

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A grandeza e sacralidade da morte

Estas são algumas lições para tirar do Dia de Finados. Estas são as lições sobre a morte que o falecido nos dá. Lições de profundidade incomparável, força de alma, coragem e grandeza. Os jornalistas de uma época passada costumavam relatar a morte de pessoas com maior perspicácia: “Finalmente, ele morreu e a majestade da morte o revestiu com suas características.” É uma ideia muito bonita.

Há majestade na morte e principalmente nas pessoas mortas que assumem um pouco da majestade do Deus punitivo. É a majestade de trovões e relâmpagos, de terremotos e cataclismos; é algo que é preciso conhecer e amar. Porque quem não conhece e não ama esta majestade não é capaz de ver Deus na sua totalidade: na sua infinita afabilidade, mas também na sua justiça eterna.

Rezemos pelos defuntos, pelas almas que estão mais abandonadas no Purgatório e por quem ninguém reza, com o consentimento de Nossa Senhora, claro, que decide o que fazer com todas as nossas orações. Peçamos também que nos obtenham a compreensão, o amor e o entusiasmo por aquelas sombras insondáveis da morte que enriquecem a estética do universo e os panoramas autênticos da vida humana.

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As almas do Purgatório aguardam nossas orações


Tradition in Action



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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.