O Santo do Dia
Os Sete Filhos de Santa Felicidade, Mártires - 10 de Julho
Nota: Em 10 de julho, a Igreja comemora a festa dos sete filhos de Santa Felicidade de Roma, e sua festa em 23 de novembro. A TIA publicará o mesmo texto para ambas as datas.
Seleção Biográfica de São Gregório Magno:
Homilia sobre Santa Felicidade: Considerai, queridos irmãos, o coração deste homem no corpo de uma mulher. Antes da morte ela não teve medo. Ela temia perder a luz da verdade se os seus filhos lhe sobrevivessem.
Devo chamar essa mulher de mártir? Ela é mais que uma mártir, pois morreu sete vezes antes de sua própria morte, pelas suas sete remunerações de amor que enviou para precedê-la no Reino. A mãe viu a morte dos sete filhos com muito sofrimento, mas sem temor.
Misturou a alegria da esperança com a dor da natureza. Temia que eles sobrevivessem a ela, e se alegrou com a morte dos filhos. Não desejava deixar sequer um, pois caso sobrevivesse, ela correria o risco de não o ter como companhia no Céu.
Que nenhum dos senhores imagine, queridos irmãos, que vendo seus filhos morrerem um a um, o coração desta mãe não abalasse em decorrência da ternura natural. Seus filhos, que sabia ser sua própria carne, ela não podia deixar, sem dor, de os ver morrer, mas ela possuía dentro de si um amor a Deus tão forte que foi suficiente para superar a dor da carne.
Felicidade amava seus filhos como a natureza pede, mas por causa da pátria celeste, desejava ver os filhos - que ela tanto amava – serem mortos em sua presença. Era ela quem sentia os golpes, foi ela quem se multiplicou, por assim dizer, na pessoa dos filhos que a precederam no Reino.
Com razão chamo essa mulher mais que mártir, pois em seu ardor ela morreu em cada um de seus filhos e, assim, atingiu um martírio multifacetado, levou consigo uma palma que excede à dos mártires.
Os antigos tinham o costume de que o cônsul ocupasse o cargo por um período limitado. Mas se um deles se tornasse cônsul por uma segunda ou terceira vez, ele superaria em louvor e dignidade aqueles que haviam ocupado apenas por uma vez.
Portanto, Santa Felicidade superou os mártires em sua glória, pois morreu tantas vezes quantos filhos ela teve, pois morreram por Cristo antes dela. Seu amor a Deus era tal que sua própria morte estava longe de ser suficiente.
Comentários de Dr. Plinio:
Os senhores têm um texto de grande elevação escrito por um Padre e Doutor da Igreja, o Papa São Gregório Magno (590 a 604).
Conta ele que diante da possibilidade de ter seus filhos mortos, Santa Felicidade temia mais pela perda de sua fé que pela perda de suas vidas.
Ele a chama mais que mártir, pois cada vez que um de seus filhos ia diante do tirano, o prefeito Publius, ela morria com ele. Ela contemplou a morte deles sem terror, de pé, sem medo.
Sofreu a dor natural de uma mãe ao ver seus filhos sendo mortos um a um, mas São Gregório diz que ela venceu essa dor da natureza com o valor da esperança cristã. Ou seja, ela tinha a certeza de que seus filhos morreriam e iriam para o Céu. Foi assim que ela venceu sua dor natural.
Ele diz ainda que ela temia pela sobrevivência de algum deles, tendo se alegrado com a morte de todos. É um pensamento bonito, porque se eles sobrevivessem, viveriam como apóstatas; assim ela temeu que eles permanecessem vivos, e se alegrou com a morte deles, pois morreram como mártires, e ganharam o Céu.
Ela sabia que seria morta logo depois deles, então pensou: “Desejo que nenhum deles sobreviva a mim, pois todos me farão companhia no céu.” O contrário também é verdadeiro: “Se meus filhos permanecerem na terra é porque apostataram. E isso eu não quero.”
Em seguida, São Gregório se dirige ao público e explica que ela possuía, como toda mãe, o instinto maternal natural. Há muito equilíbrio católico nessa posição. Admira-nos ver uma mãe que, depositando toda a sua confiança no Céu, vê morrer todos os seus filhos diante de seus olhos. Mas, por outro lado, ela não perdeu seu instinto maternal que lhe causou sofrimento; caso contrário, sua ação nos teria horrorizado.
São Gregório sabe mostrar esta obra-prima do equilíbrio que é a santidade católica: por um lado, o coração bate dolorosamente, pois a mãe vê o filho morrer; por outro lado, vibra uma alegria católica pois a mãe vê o filho a caminho do Céu. Essa mesma mãe vê então chegar o momento de ela morrer e juntar-se aos filhos no Céu. Os senhores veem como ele trata do tema com grande elevação e equilíbrio.
Outro belo pensamento de São Gregório: Cada ferida que um filho recebia, ela sentia aquela dor em si mesma, pois foi ela quem gerou aqueles filhos e os formou para o Céu. Ela foi a fonte de perseverança desses filhos.
Para cada filho que entrava no Céu, ela entrava com este filho. Vejam como isso é diferente do sentimentalismo vazio de outras biografias de santos. Este comentário é ricamente concebido, e teologicamente explanado com grande eloquência.
Ela era mais do que uma mártir. Hoje diríamos que ela bateu o recorde de martírio pois foi sete vezes mártir. São Gregório se utiliza de uma bela analogia extraída do protocolo romano. O cônsul era um magistrado semelhante a um presidente de república de hoje, mas com maior dignidade. Assim como um ex-presidente goza de certas honrarias pelo resto de sua vida, também um homem que foi cônsul gozava de honras e de um status superior aos demais cidadãos durante a vida.
Mas se um homem fosse cônsul duas ou três vezes, teria honras e dignidades ainda maiores do que aqueles que o foram apenas uma vez. E aplica essa analogia a Santa Felicidade, dizendo que ela foi mártir sete vezes, então ela merece a honra do martírio sete vezes. É assim que ele termina seu comentário.
Lamento a necessidade de traduzir suas palavras para uma linguagem mais contemporânea, o que nos priva da acuidade das grandes habilidades oratórias de São Gregório Magno. Mas pelo menos podemos vislumbrar seus pensamentos altíssimos sobre um fato de grande importância.
Seus pensamentos nos dão o que deveria ser uma das notas características de nossa formação, ou seja, o amor à grandeza. O mundo de hoje é um mundo igualitário, um mundo que odeia todos os tipos de grandeza. Com toda a sua energia tende para o que é vulgar, grosseiro e corrupto. Tem antipatia por tudo que afirma grandeza.
Há uma grandeza egoísta que existe apenas para o benefício dos grandes; isso não é grandeza católica. Deus é o modelo e autor da grandeza. Portanto, quando a grandeza se dirige ao serviço da Sua causa e não ao gozo egoísta, deve ser amada por cada alma bem formada e verdadeiramente católica.
A grandeza católica não é a grandeza gerada pela riqueza de um bilionário que é grande porque possui sacos de ouro. Esta é uma grandeza composta apenas de matéria, que não é grandeza católica. A grandeza católica é do espírito, da virtude, da tradição, da história, esta é a verdadeira grandeza. Esta é uma imagem da Grandeza Divina. A alma modelada pelo espírito católico deve amar essa grandeza.
Essa grandeza, porém, é um verdadeiro holocausto, pois quem a tem, se é verdadeiramente católico, vive em estado de sacrifício contínuo, sempre se esforçando para não tirar proveito dela, para não se apegar a ela egoisticamente. Ele a tem apenas para servir a Deus Nosso Senhor, a Nossa Senhora e a Santa Igreja Católica, e está pronto para deixá-la a qualquer momento, se for necessário.
Prefere mesmo, se esta for a vontade de Deus, afastar-se dessa grandeza a tê-la, pois como dizia Santo Inácio, em igualdade de condições devemos preferir ser pobres a ser ricos, ser atacados a glorificados, estar doente a estar saudável, e ser pequeno a ser grande.
Quando uma pessoa tem este tipo de grandeza sacral e com espírito de sacrifício, temos uma verdadeira imagem do Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi a própria Grandeza, e a quem devemos seguir e imitar.
É para esta visualização da grandeza como um valor metafísico e sobrenatural que esta meditação sobre o martírio de Santa Felicidade conduz. Ela exibe um enorme heroísmo, uma extraordinária grandeza de alma, que é cantada e elogiada por um homem de talento prodigioso, um talento colocado a serviço da causa católica. Este foi São Gregório Magno.
Aqui os senhores veem um dos aspectos magníficos da Igreja Católica. Ela é uma Rainha sempre transbordante de grandeza. Por mais que o progressismo tente desfigurá-la e apresentá-la como proletária, ela nunca será isso.
Na grandeza bondosa da Igreja e na contínua efusão do Sangue de Cristo que a Igreja faz na Santa Missa, vemos a grandeza sacral e sacrificial da Igreja Católica.
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
Seleção Biográfica de São Gregório Magno:
Homilia sobre Santa Felicidade: Considerai, queridos irmãos, o coração deste homem no corpo de uma mulher. Antes da morte ela não teve medo. Ela temia perder a luz da verdade se os seus filhos lhe sobrevivessem.
Santa Felicidade encorajou cada filho a morrer bem
Misturou a alegria da esperança com a dor da natureza. Temia que eles sobrevivessem a ela, e se alegrou com a morte dos filhos. Não desejava deixar sequer um, pois caso sobrevivesse, ela correria o risco de não o ter como companhia no Céu.
Que nenhum dos senhores imagine, queridos irmãos, que vendo seus filhos morrerem um a um, o coração desta mãe não abalasse em decorrência da ternura natural. Seus filhos, que sabia ser sua própria carne, ela não podia deixar, sem dor, de os ver morrer, mas ela possuía dentro de si um amor a Deus tão forte que foi suficiente para superar a dor da carne.
Felicidade amava seus filhos como a natureza pede, mas por causa da pátria celeste, desejava ver os filhos - que ela tanto amava – serem mortos em sua presença. Era ela quem sentia os golpes, foi ela quem se multiplicou, por assim dizer, na pessoa dos filhos que a precederam no Reino.
Com razão chamo essa mulher mais que mártir, pois em seu ardor ela morreu em cada um de seus filhos e, assim, atingiu um martírio multifacetado, levou consigo uma palma que excede à dos mártires.
Os antigos tinham o costume de que o cônsul ocupasse o cargo por um período limitado. Mas se um deles se tornasse cônsul por uma segunda ou terceira vez, ele superaria em louvor e dignidade aqueles que haviam ocupado apenas por uma vez.
Portanto, Santa Felicidade superou os mártires em sua glória, pois morreu tantas vezes quantos filhos ela teve, pois morreram por Cristo antes dela. Seu amor a Deus era tal que sua própria morte estava longe de ser suficiente.
Comentários de Dr. Plinio:
Os senhores têm um texto de grande elevação escrito por um Padre e Doutor da Igreja, o Papa São Gregório Magno (590 a 604).
Conta ele que diante da possibilidade de ter seus filhos mortos, Santa Felicidade temia mais pela perda de sua fé que pela perda de suas vidas.
'Meus filhos viverão para sempre se, como eu, desprezarem os ídolos e morrerem por seu Deus'
Sofreu a dor natural de uma mãe ao ver seus filhos sendo mortos um a um, mas São Gregório diz que ela venceu essa dor da natureza com o valor da esperança cristã. Ou seja, ela tinha a certeza de que seus filhos morreriam e iriam para o Céu. Foi assim que ela venceu sua dor natural.
Ele diz ainda que ela temia pela sobrevivência de algum deles, tendo se alegrado com a morte de todos. É um pensamento bonito, porque se eles sobrevivessem, viveriam como apóstatas; assim ela temeu que eles permanecessem vivos, e se alegrou com a morte deles, pois morreram como mártires, e ganharam o Céu.
Ela sabia que seria morta logo depois deles, então pensou: “Desejo que nenhum deles sobreviva a mim, pois todos me farão companhia no céu.” O contrário também é verdadeiro: “Se meus filhos permanecerem na terra é porque apostataram. E isso eu não quero.”
Em seguida, São Gregório se dirige ao público e explica que ela possuía, como toda mãe, o instinto maternal natural. Há muito equilíbrio católico nessa posição. Admira-nos ver uma mãe que, depositando toda a sua confiança no Céu, vê morrer todos os seus filhos diante de seus olhos. Mas, por outro lado, ela não perdeu seu instinto maternal que lhe causou sofrimento; caso contrário, sua ação nos teria horrorizado.
Seu coração materno sofreu:
Uma mãe sete vezes mártir!
Outro belo pensamento de São Gregório: Cada ferida que um filho recebia, ela sentia aquela dor em si mesma, pois foi ela quem gerou aqueles filhos e os formou para o Céu. Ela foi a fonte de perseverança desses filhos.
Para cada filho que entrava no Céu, ela entrava com este filho. Vejam como isso é diferente do sentimentalismo vazio de outras biografias de santos. Este comentário é ricamente concebido, e teologicamente explanado com grande eloquência.
Ela era mais do que uma mártir. Hoje diríamos que ela bateu o recorde de martírio pois foi sete vezes mártir. São Gregório se utiliza de uma bela analogia extraída do protocolo romano. O cônsul era um magistrado semelhante a um presidente de república de hoje, mas com maior dignidade. Assim como um ex-presidente goza de certas honrarias pelo resto de sua vida, também um homem que foi cônsul gozava de honras e de um status superior aos demais cidadãos durante a vida.
Mas se um homem fosse cônsul duas ou três vezes, teria honras e dignidades ainda maiores do que aqueles que o foram apenas uma vez. E aplica essa analogia a Santa Felicidade, dizendo que ela foi mártir sete vezes, então ela merece a honra do martírio sete vezes. É assim que ele termina seu comentário.
Lamento a necessidade de traduzir suas palavras para uma linguagem mais contemporânea, o que nos priva da acuidade das grandes habilidades oratórias de São Gregório Magno. Mas pelo menos podemos vislumbrar seus pensamentos altíssimos sobre um fato de grande importância.
Seus pensamentos nos dão o que deveria ser uma das notas características de nossa formação, ou seja, o amor à grandeza. O mundo de hoje é um mundo igualitário, um mundo que odeia todos os tipos de grandeza. Com toda a sua energia tende para o que é vulgar, grosseiro e corrupto. Tem antipatia por tudo que afirma grandeza.
A pregação de São Gregório, elevada e sublime
A grandeza católica não é a grandeza gerada pela riqueza de um bilionário que é grande porque possui sacos de ouro. Esta é uma grandeza composta apenas de matéria, que não é grandeza católica. A grandeza católica é do espírito, da virtude, da tradição, da história, esta é a verdadeira grandeza. Esta é uma imagem da Grandeza Divina. A alma modelada pelo espírito católico deve amar essa grandeza.
Essa grandeza, porém, é um verdadeiro holocausto, pois quem a tem, se é verdadeiramente católico, vive em estado de sacrifício contínuo, sempre se esforçando para não tirar proveito dela, para não se apegar a ela egoisticamente. Ele a tem apenas para servir a Deus Nosso Senhor, a Nossa Senhora e a Santa Igreja Católica, e está pronto para deixá-la a qualquer momento, se for necessário.
Prefere mesmo, se esta for a vontade de Deus, afastar-se dessa grandeza a tê-la, pois como dizia Santo Inácio, em igualdade de condições devemos preferir ser pobres a ser ricos, ser atacados a glorificados, estar doente a estar saudável, e ser pequeno a ser grande.
Quando uma pessoa tem este tipo de grandeza sacral e com espírito de sacrifício, temos uma verdadeira imagem do Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi a própria Grandeza, e a quem devemos seguir e imitar.
É para esta visualização da grandeza como um valor metafísico e sobrenatural que esta meditação sobre o martírio de Santa Felicidade conduz. Ela exibe um enorme heroísmo, uma extraordinária grandeza de alma, que é cantada e elogiada por um homem de talento prodigioso, um talento colocado a serviço da causa católica. Este foi São Gregório Magno.
Aqui os senhores veem um dos aspectos magníficos da Igreja Católica. Ela é uma Rainha sempre transbordante de grandeza. Por mais que o progressismo tente desfigurá-la e apresentá-la como proletária, ela nunca será isso.
Na grandeza bondosa da Igreja e na contínua efusão do Sangue de Cristo que a Igreja faz na Santa Missa, vemos a grandeza sacral e sacrificial da Igreja Católica.
|
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.