Histórias e Lendas
Como a Flor de Lis se tornou o
símbolo da França
Encontramos a nossa lenda no poema do final do século 13 escrito na Abadia de Joyenval em Chambourcy. (2)
O escudo de Clovis, do Livro de Horas de Bedford, c. 1423, abaixo, um manuscrito medieval registra a mudança de sapos para lírios
Quando Clovis retornou ao seu castelo, ele procurou o misterioso significado das três flores-de-lis douradas. Clotilde disse-lhe que as três pétalas da flor simbolizavam a Santíssima Trindade que lhe dera a vitória. Pois Deus não queria que ele carregasse mais tal escudo com sapos, mas enviou-lhe aquelas três flores-de-lis num campo azul para que ele fosse provido adequadamente depois que se tornasse católico.
“Por meio disto a Santíssima Trindade lhe dá a vitória, meu Senhor Clóvis, de modo que assim como a unidade das três flores é como ouro para o seu escudo, assim em perpetuidade sua autoridade reinará suprema em soberania dourada.” (3)
A partir desse momento a flor-de-lis substituiu o sapo e tornou-se o símbolo da França e dos seus Reis.
E como foi que os três lírios apareceram no escudo de Clóvis?
Havia um piedoso eremita que vivia perto do castelo, junto ao local onde mais tarde seria construído o Mosteiro de Joyenval. A Rainha Clotilde às vezes consultava este santo monge. Um dia, quando o eremita estava rezando, um Anjo apareceu-lhe com um escudo sobre o qual foram colocadas as três flores-de-lis sobre um fundo da cor de um sereno céu azul.
O monge contou a Clotilde esta visão, e ela ordenou que os sapos fossem arrancados do escudo de Clóvis e substituídas por lírios. Com este novo símbolo do Céu, entregue em mensagem por um Anjo, Clovis venceu sua batalha contra Conflac. E com esta vitória, uma nova era de paz e harmonia chegou a toda a França. E assim o lírio virginal e imaculado proporcionou o símbolo perfeito da virtude, do poder e da estabilidade da Monarquia Francesa, sob a proteção da Santíssima Trindade e da Virgem Maria. Do início ao fim da linha capetinjia (família Capeto), a heráldica e a iconografia dos Reis franceses incluíam, praticamente sem exceção, uma flor-de-lis portada na mão, colocada no topo de um cetro ou colocada em vestes reais, escudos e selos.
O casamento do Rei Luís VIII e
Branca de Castela, 1223
Pois o lírio está pintado em sua armadura.
Te lillium regem non dubito,
Nam lilium armis depingitur. (4)
No século 13 a flor-de-lis foi adotada também pelas ordens de cavalaria como símbolo das virtudes. Guillaume de Nangis elogiou a flor-de-lis e notou o seu significado assim:
“Mas como Nosso Senhor Jesus Cristo deseja acima de todos os outros Reinos iluminar o Reino da França com os três atributos acima mencionados, isto é, fé, aprendizagem e cavalaria, é tornou-se costume do Rei trazer no seu brasão e no seu estandarte a flor do lírio de três pétalas, como se as três pétalas dissessem ao mundo inteiro: a Fé, o saber e o cavalheirismo prosperam mais abundantemente no nosso Reino do que em qualquer outro Reino, servindo-nos através do cuidado e da graça de Deus. … Pois a fé é governada e regrada pelo conhecimento e é defendida pela cavalaria.
“E além disso, enquanto os três acima mencionados estiverem juntos no Reino da França e estiverem firmemente unidos entre si, o Reino também permanecerá firme. Se, porém, eles forem separados uns dos outros ou dilacerados, tudo será reduzido à desolação e cairá em ruína.”
- Bernardo de Claraval, Sermões, ed. J. Leclercq and H Rochais, S. Bernardi Opera, 5 (Roma, 1958), Sermão 48, pp. 67-73.
- Michael Randall, “Sobre a evolução dos sapos na Renascença Francesa.” Renaissance Quarterly, vol. 57, no. 1 (primavera, 2004), pp. 126-164.
- Mary Channen Caldwell, “Flor do lírio': simbolismo religioso e heráldico do final da Idade Média em Paris,” Bibliothèque Nationale de France, ms français 146, vol. 33 (2014), p. 18, https://www.jstor.org/stable/43304729
- Ibid.
Postado em 17 de fevereiro de 2024