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A Personalidade de Santa Teresinha de Lisieux - III

Infância: etapa principal da
vida de Santa Teresinha

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Vimos a personalidade, o olhar e o espírito essencialmente contemplativo de Santa Teresinha numa fotografia tirada quando ela tinha oito anos.

Agora quero insistir em outro ponto: Santa Teresinha morreu aos 24 anos e sempre destacou sua infância. Este período marcou tão profundamente o curso da sua vida que reflete o seu espírito. Na vida de Santa Teresinha, os pontos culminantes são a sua infância e o fim, as vésperas da sua morte.

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Santa Teresinha aos 8 anos

Lembrei-me de que quando ela escreveu seus Manuscritos Autobiográficos sob obediência, ela não falou quase nada sobre sua vida no convento. Só muito mais tarde, para atender ao pedido da Prioresa, é que ela falou da sua vida de freira. Para ela a infância era tudo, porque foi uma infância profundamente consciente, meditativa e fundamentada.

Acredito que este seja um elemento precioso para o conceito de infância espiritual. Não é tolo, muito menos impensado. É a alma da criança que se torna capaz das maiores coisas, que são feitas de forma amável e autêntica, o que não é normal para o espírito de uma criança. Este é o cerne da questão.

A sua missão é apresentar o seu caminho e, atrair-nos para o seu caminho. E fazer isso com o que a infância tem de afável, pequena, acessível e charmosa. Que infância meditativa! Que infância fecunda! Uma infância que pode ser comparada ao fim da vida de Santa Mônica!

Vemos nela os tesouros da maturidade, da meditação, da profundidade e, quando necessário, da atividade, que se enquadram numa verdadeira infância espiritual. Foi ela quem disse: “Para o amor nada é impossível.”

Esta foto mostra Santa Teresinha do Menino Jesus com o grande tesouro de meditação que ela tinha e que pode existir na alma de uma criança, pois ela o preservou até a maturidade. Devemos compreender bem este ponto: Ela viveu a sua infância sendo fiel a si mesma, sendo ela mesma até ao apogeu da sua maturidade. É uma coisa magnífica.

Diferentes reações de almas

Depois destas orientações sobre como se analisa uma alma, apliquemo-las à sede de almas que deveríamos ter.

Imaginemo-nos, então, saindo do quarto de um hotel. Uma menina sai do quarto onde uma família está hospedada. Essa menina é a da foto. Temos que imaginar que não sabemos que esta menina será Santa Teresinha: ela é simplesmente a criança Teresinha Martin. Dentro de alguns anos, ela será Mademoiselle Martin e nada mais. Qual é a nossa reação ao ver essa menina? Existem muitas reações possíveis.

Indiferença

A reação mais comum seria: “Ah, aqui está uma menina.” Ou: “Que bobagem, aquela corda na mão.” Ou “Essa menina vai pular corda.” E outras coisas desse tipo. A pessoa passava por Santa Teresinha sem notá-la.

community

Uma comunidade com freiras medíocres e caprichosas que não viam Santa Teresinha como ela era

Não é normal que um santo passe pela nossa vida sem que percebamos. Santa Teresinha, porém, passou despercebida. Ninguém no convento, nem mesmo as suas próprias irmãs, imaginavam que ela era santa.

Era um convento deplorável, um convento cheio de caprichos. Diga-se entre parênteses que Santa Teresinha sabia o que ali a esperava, pois quem tem olhos como os dela vê através das paredes de um convento.

Mas deveriam tê-la notado, e foi um sinal da tibieza deste convento o fato de Santa Teresinha não ter sido notada.

Faríamos o mesmo?

Egocentrismo

Viremos a página. Já não estamos num hotel, mas sim nos Buissonnets, a casa da família de Monsieur Martin, imaginando-a como uma pensão. Estamos lá, pagando, digamos, 10 francos-ouro por hospedagem e alimentação. Notaríamos essa menina? Que impressões essa criança causaria em nós?

buissonets

Nos Buissonnets, casa de Santa Teresinha

Talvez uma impressão vaga, muito vaga, de santidade. Expressaríamos essas impressões com algumas reações. Nós a acharíamos divertida, conversaríamos um pouco com ela, gostaríamos de ouvir o timbre de sua voz, acharíamos encantador algo que ela dissesse. No máximo, concluiríamos: “As filhas do senhor Martin são todas muito simpáticas. Quem mais me diverte é a pequena Teresa.” E não iríamos mais longe.

Não poderia ser esta a reação de um ou de outro de nós? Esta é uma reação egoísta e utilitária. Percebemos vagamente a santidade, ela nos agrada, pensamos no prazer que ela nos dá e ela se torna nada mais do que um instrumento de prazer. Um prazer legítimo, sem nada de censurável contra o Sexto Mandamento. Equivale a considerá-la como consideraríamos uma boneca, um gatinho, um bicho de pelúcia: ela é uma criança fofa. Sua santidade não nos alcançaria.

De repente, somos informados de que esta menina realizou um notável ato de caridade para conosco: privou-se do jantar e passou a noite inteira com fome para que pudéssemos ter aquela comida. Diríamos: “Ah, estou encantado! Veja como ela me ama! Como estou grato! Ela é uma menina com um coração de ouro!” No fundo pensamos: “Ela percebeu o quanto eu sou uma pessoa encantadora. Ela me entendeu, percebeu o quanto eu mereço esse ato de abnegação.”

Pode até haver algumas reações de nossa parte: “Vem cá, minha querida. Comprei um brinquedo para você.” Ou o comentário: “Como gosto desta criança!” Ou “Veja como essa menina gosta de mim!” Ou: "Essa menina tem uma virtude excepcional. Como é agradável vê-la.” Em todo caso, uma reação que sempre agrada a menina mais como uma distração do que como um espelho de virtude.

Uma atitude desinteressada

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Santa Teresinha com seu pai, que entendeu e ajudou a moldar aquela alma maravilhosa

Poucos diriam: “Essa criança tem oito anos. Quantos perigos ela enfrentará ao longo de sua vida! Que bela alma ela terá quando chegar ao fim da jornada que Deus lhe destinou!

“O que posso fazer para que esta obra-prima não se deteriore? O que posso fazer para ajudar essa alma a se elevar no firmamento da santidade? Desejo isso mais do que tudo. Deus fez essa maravilha. O que posso fazer – orar por ela, dar-lhe um conselho, protegê-la do mundo – para que essa maravilha possa chegar ao seu último fim?

“Tenho sede dessa santidade. Quero ver esse desígnio de Deus realizado. Quando eu ver, será como o profeta Simeão quando viu o Menino Jesus. Embora eu seja velho e cinzento, posso dizer: ‘Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a tua salvação’ (Lc 2,29).”

Essa pessoa tem sede de almas.

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Santa Teresa no final de sua vida

As observações de outros poderiam ser etapas em uma estrada, mas etapas percorridas muito rapidamente. O ponto final não é que essa alma nos amou bem ou devolveu o carinho que lhe demos; ao contrário, é perceber que essa alma é uma obra-prima criada por Deus, uma alma que Deus deseja elevar a um alto grau de perfeição. É isso que nos faz apóstolos: é ver uma alma e ter sede da perfeição dessa alma.

Vejamos agora uma fotografia de Santa Teresinha no fim de sua vida, quando tinha diante de si o último cálice de sofrimento para beber, e já havia bebido dele. Nesta foto à esquerda podemos ver tristeza em seu rosto, mas ao mesmo tempo simplicidade, franqueza, naturalidade, afabilidade, força e elevação, uma capacidade de contemplação levada à sua plenitude, à sua plenitude absoluta.

Aqui vemos que o plano inicial de Deus chegou à perfeição. Então, acompanhando a trajetória dessa alma, vemos que ela foi santificada, e podemos cantar o Magnificat.


plaque

Placa na Catedral de Lisieux: neste local, em uma missa em julho de 1887, Irmã Teresa do Menino Jesus recebeu de Deus a revelação de sua missão: salvar almas através da oração e do sacrifício. “Senti um anseio inefável e resolvi me manter aos pés da Cruz. Fui devorada pela sede de almas.” (Autobiografia, cap. V)

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Postado em 13 de maio de 2024